Doses maiores

28 de agosto de 2019

O ônibus 693 e o Uber aéreo

Em junho passado, o The Intercept-Brasil trouxe uma matéria inusitada sobre grupos de WhatsApp. Trata-se de uma reportagem de Felipe Fagundes.

Em tom bem-humorado, o repórter descreve como foi apresentado ao “conceito de grupo do WhatsApp do ônibus”:

Isso mesmo que você acabou de ler. Acho que todo mundo faz parte de um grupo da família, dos amigos e do trabalho, mas fiquei bastante intrigado com esse novo tipo. Sim, era exatamente isso: um grupo com todas as pessoas que pegam o 693, em todos os horários, incluindo alguns motoristas e cobradores.

Acontece que o tal ônibus circula com intervalos enormes e incertos por seu itinerário carioca. Para enfrentar essa situação, o grupo funciona do seguinte modo:

1) os usuários perguntam onde o ônibus está e quem está nele responde – mandam localização e dá até para se programar antes de sair de casa, 2) os passageiros informam se o ônibus está cheio, se tem lugar pra sentar, quem é o motorista, 3) pessoas atrasadas podem implorar para o motorista ir mais devagar para dar tempo dela embarcar...

A reportagem acaba sendo um oásis no árido terreno das trocas de mensagens virtuais. Principalmente, em tempos de Vaza-Jato e circulação generalizada de insultos pela rede.

Por outro lado, deveríamos perguntar que porcaria de transporte público é esse, que obriga a população a fazer essa ginástica toda para ser utilizado?

Bom, são os tempos neoliberais, que impõem a adoção de soluções paroquiais para problemas metropolitanos. Cada um por si, ou, no máximo, por seu pequeno grupo de zap.

Enquanto isso, alguns pouco bacanas já contam com o “ubercóptero”.

2 comentários:

  1. Engraçado, a primeira sensação que se tem é de que o Uber-Ônibus é uma ótima opção. Sempre assim, quando se retira o que existe de opção pública, surge uma iniciativa "criativa", individual ou de grupo, para se colocar no lugar. E o pior é que todo mundo aplaude.

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    1. Acho que é isso o que uma "disrupção" faz. Ela abala a ordem radicalmente, mas pra manter melhor essa mesma ordem. Isso dá uma desorientada tanto em quem conservar, como em quem quer revolucionar. Tanto é que os primeiros costumam ficar mais reticentes que os segundos.

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