Doses maiores

27 de agosto de 2019

Privacidade hackeada, democracia comprada

Está disponível no Netflix o documentário “Privacidade hackeada”, sobre a empresa Cambridge Analytica, que ficou famosa por trabalhar para as campanhas de Donald Trump e do Brexit, pela saída do Reino Unido da União Europeia.

A especialidade da empresa era lucrar utilizando os dados que muitos milhões de pessoas deixam nas redes virtuais. Mas não haveria Cambridge sem o Facebook, que era, na prática, sua única fonte de informações.

Depois de muitas denúncias envolvendo a apropriação desautorizada de informações pessoais, a Cambridge fechou. Já o Facebook...

Mas o documentário mostra um episódio que não envolve diretamente a manipulação cibernética.

Em 2013, uma eleição em Trindade e Tobago opunha os dois principais partidos do país. O eleitorado de um era majoritariamente negro, o do outro, quase todo de ascendência indiana.

A Cambridge propôs ao partido “indiano” uma campanha com o slogan “Do So", algo como “Não vou”, em referência ao ato de votar. Era um chamado à abstenção eleitoral, mas voltado para o eleitorado jovem.

A campanha realmente foi um sucesso entre os jovens. Mas só alcançou seu objetivo junto à juventude negra. Acontece que o comportamento dos jovens é muito mais controlado nas famílias indianas do que nas negras.

Enquanto os jovens negros mantiveram sua postura de abstenção, muitos de seus pares indianos, pressionados pelos pais, compareceram às urnas em número suficiente para dar a vitória ao cliente da Cambridge.

É mais um caso em que o poder econômico promove despolitização e alienação para vencer.

“Privacidade hackeada” poderia ser só o título do mais recente capítulo da velha e conhecida série “Democracia comprada”.

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