Doses maiores

1 de agosto de 2019

Altamira: a transição entre a ditadura e seus porões

No final de julho, pelo menos 58 detentos foram mortos em Altamira. O maior massacre desde o episódio trágico do Carandiru.

Não foi um raio em céu azul.

O município localizado no centro-sul do Pará apareceu como o mais violento do Brasil na edição do Atlas da Violência, de junho de 2017.

O levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontava uma taxa de homicídios e mortes violentas de 107 por 100 mil altamirenses.

A média nacional era de 30 mortes.

Em 2000, a realidade de Altamira era muito diferente. Aquela taxa era seis vezes menor: 11 por 100 mil moradores.

E o que aconteceu nesse intervalo de tempo para que se chegasse a esse estado de barbárie?

A resposta é tão precisa quanto triste e revoltante: a Usina de Belo Monte, cuja construção foi lançada pela ditadura militar e perdeu impulso até que sua conclusão virou questão de honra para os governos petistas.

Não adiantaram os inúmeros protestos e denúncias de ambientalistas, entidades populares e, principalmente, lideranças indígenas contra a construção. Foram ignorados e desprezados.

Quando questionado sobre a morte dos presidiários, Bolsonaro respondeu: "Pergunta para as vítimas dos que morreram lá o que eles acham". Frio e estúpido, como sempre. Mas, neste caso específico, a diferença entre ele e seus antecessores não é tão grande.

Os governos petistas retomaram um projeto dos governos militares, imitando, inclusive, seus métodos autoritários. Bolsonaro representa a mentalidade dos carrascos a serviço daqueles governos.

A esquerda que ajudou a promover esse reencontro entre a ditadura e seu porão também deve explicações.

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