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18 de agosto de 2021

Escravidão: quando os de cima se dividem, hora de atacar

Em 1803, Jean-Jacques Dessalines assumiu a liderança da revolução haitiana após a morte de Toussaint Louverture. Como relata Laurentino Gomes em seu livro “Escravidão”:

No dia 1º de janeiro de 1804, Dessalines, vitorioso, proclamou o Estado Independente do Haiti, do qual ele seria também o primeiro imperador, coroado no ano seguinte. Os brancos que ainda restavam no novo país foram massacrados. A antiga classe dirigente foi totalmente aniquilada. A revolução no Haiti repetiu um padrão observado em todos os territórios escravistas no continente americano: os escravos se rebelaram e ocuparam espaços sempre que, por divergências internas, a autoridade branca se esfacelou ou entrou em colapso. Era o que tinha acontecido, por exemplo, no Brasil em meados do século 17, quando a luta entre portugueses e holandeses abrira uma brecha para o crescimento e o fortalecimento do Quilombo de Palmares, no interior da então capitania de Pernambuco.

Gomes lembra que essa divisão entre os setores dominantes marcou outros conflitos como a Cabanagem, no Pará; a Balaiada, no Maranhão, e a Revolução dos Cabanos, em Pernambuco e Alagoas.

Na luta por sua liberdade, afirma o historiador Flávio dos Santos Gomes, em seu livro “Mocambos e quilombos”, os “escravos percebiam que os senhores estavam divididos e as tropas, desmobilizadas para a repressão; portanto, havia maior possibilidade de sucesso para suas escapadas”.

Essa condição não é importante apenas para o sistema escravista. Lênin colocava a divisão entre os de cima como uma das condições fundamentais para uma crise revolucionária. Mas essa condição pouco vale sem a organização dos de baixo. Algo que os rebeldes antiescravagistas que lutavam por aqui já sabiam.

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