Doses maiores

9 de agosto de 2021

Escravizando corpos e saberes

Saiu o segundo volume de “Escravidão”, livro de Laurentino Gomes. Como o primeiro, traz muitas informações interessantes. Dentre elas, um aspecto recentemente descoberto por novos estudos históricos, mostrando que os africanos escravizados não eram apenas mercadorias como outras quaisquer.

“Além de seres humanos acorrentados e marcados a ferro quente, diz Gomes, os porões dos navios negreiros transportavam conhecimentos e habilidades tecnológicas desenvolvidas na África que seriam cruciais na ocupação europeia do Novo Mundo”.

Em seus lugares de origem, afirma o autor:

...os africanos trabalharam como ferreiros, metalúrgicos, escultores e gravadores, prateiros e ourives, ferramenteiros, curtidores de couro e carne salgada, sapateiros, seleiros, tanoeiros, cocheiros, criadores e treinadores de cavalos, vaqueiros, carpinteiros, marinheiros, tecelões e pintores de tecidos, alfaiates e costureiras, cozinheiros, ceramistas, salineiros, projetistas e construtores de casas, armazéns, edifícios públicos, igrejas, estradas, canais e represas, entre outras atividades.

Ainda segundo o jornalista, muitos dos africanos escravizados eram habilidosos criadores de gado e foram fundamentais para o desenvolvimento da pecuária nas Américas.

Até o início do século 18, os colonos portugueses dominavam a técnica de fazer açúcar, mas nada sabiam de garimpo de ouro e diamantes. Coube aos escravizados trazer essa experiência. Em regiões da atual República de Gana, “o ouro em pó era processado e transformado em moedas de alta qualidade. A chamada lavagem aluvial, que consistia na retirada do minério depositado no fundo de rios e alagadiços, era praticada antes ainda da chegada dos portugueses à costa africana”.

São informações importantes. Mostram que, desde o seu início, foi fundamental para o sistema capitalista a sistemática apropriação das técnicas e saberes dos explorados.

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