Por volta de 1865, havia cerca de 4 milhões de pessoas escravizadas nos Estados Unidos. Como foram cerca de 400 mil cativos trazidos da África no total, o número de cativos norte-americanos havia se multiplicado por dez.
No Brasil, ocorreu o contrário. Em três séculos e meio, 4,9 milhões de africanos foram escravizados. Mas, em 1888, esse número estava reduzido a 750 mil.
Segundo Laurentino Gomes, em seu livro “Escravidão”, um dos fatores que explicaria essa diferença seriam as taxas de mortalidade. A expectativa de vida média de um brasileiro escravizado no fim do século 19 não passava de 18,3 anos, muito inferior à norte-americana, que era de 35,5 anos. Como resultado, as taxas de natalidade entre os escravizados eram bem maiores nos Estados Unidos, enquanto no Brasil foi necessário intensificar o tráfico para repor e manter o número de cativos.
O outro fator importante era a alforria. Em meados do século 19, cerca de 1% de todos os brasileiros escravizados obtinha a alforria anualmente, contra apenas 0,04% dos cativos norte-americanos.
Em alguns estados norte-americanos, a alforria era válida apenas com o consentimento formal da assembleia legislativa estadual. Senhores de escravos jamais poderiam negociar a libertação diretamente com seus cativos, como acontecia no Brasil.
Uma das possíveis explicações para isso é que os escravocratas estadunidenses temiam que a convivência entre libertos e escravizados desestabilizasse o regime de cativeiro. Já por aqui, a alforria teria sido incorporada como parte importante do sistema escravista, servindo de incentivo ao bom comportamento dos cativos.
Na próxima pílula tentaremos explicar melhor essa hipótese presente no livro de Laurentino Gomes.
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