Em “O Capital”, Marx procurou mostrar como os imperativos do crescimento capitalista inevitavelmente entram em conflito com as leis da natureza. A economia capitalista, escreveu, não pode "fazer nada melhor com os excrementos produzidos por 4,5 milhões de londrinos do que poluir o Tâmisa a um custo monstruoso".
Marx considerou tais fenômenos como "uma fenda irreparável no processo interdependente do metabolismo social e natural". Abaixo, alguns exemplos dessa “fenda irreparável”:
- Em 1925, eram necessárias dezesseis semanas para criar uma galinha de 2,5 kg. Hoje, são apenas seis semanas para criar uma com o dobro do peso. Criação seletiva, hormônios e ração química permitiram que as fazendas industriais produzissem não apenas mais carne, mais rápido. O sofrimento dos animais e a qualidade da comida são preocupações secundárias ou simplesmente inexistem.
- Terras férteis são destruídas, florestas são desmatadas e populações de peixes entram em colapso, tudo porque o capitalismo precisa operar em velocidades muito mais rápidas do que os ciclos naturais de reprodução e crescimento.
- O carbono que levou centenas de milhões de anos para se formar vem sendo consumido pelo capitalismo há menos de dois séculos. Milhões de toneladas de CO2 são liberados muito mais rapidamente do que os oceanos e outros elementos naturais conseguem removê-los da atmosfera.
A crise climática está levando o caos a centenas de milhões não porque os mercados não estejam funcionando bem o suficiente, mas porque funcionam bem demais na aceleração dos ciclos globais de energia e materiais.
As informações acima estão no livro “Enfrentando o Antropoceno”, de Ian Angus. Explicam porque o Antropoceno é tragicamente capitalista.
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