Segundo Ian Angus em seu livro “Enfrentando o Antropoceno”, desde o início da Revolução Industrial, o Antropoceno já era uma possibilidade. Mas só se tornou realidade na segunda metade do século 20, quando a utilização do carbono expandiu-se repentinamente além do ponto de retorno.
A adoção geral de carvão, porém, não foi um processo somente tecnológico. No início dos anos 1800, o sistema fabril resumia-se, basicamente, à fiação e tecelagem, cuja força motriz eram moinhos d'água. Desse modo, era preciso instalar as fábricas perto de corredeiras ou cachoeiras, geralmente em áreas rurais, onde o número de trabalhadores disponíveis era pequeno.
Os moinhos a vapor, por outro lado, podiam ser instalados em cidades, perto de um grande número de trabalhadores e onde a presença de um exército de desempregados ajudava a enfraquecer a resistência operária.
Além disso, os navios e trens movidos a carvão permitiram que a Grã-Bretanha e seus rivais continentais tomassem o controle de territórios na Ásia, África e Oriente Médio que há muito resistiam à conquista.
Em 1910, Winston Churchill usou o exército para acabar com greves nas minas galesas, que eram a única fonte de carvão com a qualidade necessária para os navios de guerra. Mas quando assumiu o comando da marinha no ano seguinte, imediatamente Churchill iniciou um programa para converter os navios de guerra para petróleo. A nova fonte de energia permitiu ao governo se libertar das reivindicações dos mineiros de carvão.
Como se vê, as mudanças tecnológicas têm fortes componentes ligados a luta de classes, colonialismo e imperialismo. No Antropoceno, mais do que nunca, tecnologia rima com ideologia.
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