Doses maiores

28 de fevereiro de 2012

Marx anarquista (2)

Em relação ao debate sobre as posições libertárias de Marx, agradeço ao companheiro Diego Rodrigues a indicação de um texto muito interessante: “Anarquismo e Marxismo”, de Daniel Guérin, escrito em 1973.

Neste artigo, o anarquista francês lembra as complicadas relações entre o revolucionário alemão e lideranças libertárias. É o caso de Bakunin, com quem travou raivosas batalhas. Mas Guérin garante que o anarquista russo foi responsável por afastar Marx de certas posições políticas perigosas. Um exemplo:
Durante os primeiros anos do partido social-democrata na Alemanha, os social-democratas passaram a defender um “Volkstaat” (Estado Popular). Marx e Engels estavam provavelmente tão felizes e confiantes pelo surgimento de um partido de massas alemão inspirado em seu pensamento que demonstraram uma estranha indulgência. Foi necessária a denúncia furiosa e repetida do “Volkstaat” por Bakunin, assim como da aproximação dos social-democratas com os partidos burgueses radicais que Marx e Engels sentiram-se obrigados a condenar tal forma de organização e tal prática.
Outro desafeto de Marx era Proudhon. Marx acusou, por exemplo, o anarquista francês de ser defensor da propriedade privada. Guérin nega e diz que Proudhon “celebrava a pequena propriedade privada na mesma medida em que via nela um grau de liberdade pessoal”. E afirma:
Marx não sabia que, para as grandes indústrias, em outros termos, para o setor capitalista, Proudhon fazia muito corretamente a defesa da propriedade coletiva. Não dizia ele em suas anotações, que a “pequena indústria é uma coisa tão ridícula quanto a pequena cultura”? Para a grande indústria moderna, ele era claramente coletivista.
Sobre este último aspecto, a confusão continua muito grande. É possível dizer que na própria obra de Marx o grande problema não é a propriedade privada em geral. A questão central é o controle dos meios de produção.

O que são as gigantescas sociedades anônimas capitalistas atuais? De um lado, representam a propriedade pulverizada por milhares de acionistas minoritários. De outro lado, seu controle está concentrado nas mãos de alguns poderosos investidores. Nos momentos de crise, o prejuízo é assumido apenas pelos pequenos.

Enquanto a direita nos acusa de cobiçar as posses alheias, os capitalistas se apropriam delas pelo mercado. Por estas e outras, Guérin mostra-se otimista em seu texto quanto a uma possível síntese entre posições marxistas e anarquistas:
um comunismo libertário, fruto de uma tal síntese, experimenta sem dúvida nenhuma os desejos profundos (mesmo se por acaso ele não seja mais, de fato, consciente) dos trabalhadores avançados. Daquilo que chamo hoje em dia de “esquerda operária”, mais avançada que o marxismo autoritário degenerado ou o velho anarquismo ultrapassado e fossilizado.
A profunda crise capitalista que atravessamos atualiza e torna quase obrigatórias tais esperanças.

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