Doses maiores

8 de abril de 2015

A esquerda que só fala para si mesma


Muito interessante a entrevista de Bernardo Kucinski ao programa “Espaço Público”, da TV Brasil, de 17/03.

Merece destaque o momento em que o veterano jornalista petista afirma que a esquerda brasileira não tem uma política de comunicação. A maioria de seus setores estaria mais preocupada em dirigir-se a seu “público interno” e não fala para fora.

É verdade. O próprio PT, um dos maiores partidos de esquerda surgidos no mundo, nunca teve uma publicação nacional e diária. Diferente do PCB, por exemplo, que chegou a ter oito jornais diários espalhados pelo país nos anos 1940.

Apesar do estalinismo de muitos dos comunistas daqueles tempos, eles disputavam com a burguesia cada aspecto da vida social na tão necessária luta por hegemonia. Não conquistaram seu objetivo, mas mantiveram uma imprensa de alcance amplo mesmo na ilegalidade.

O problema é que os setores dirigentes do PT sempre confundiram disputa de hegemonia com briga por votos. Por consequência, o partido chegou a postos de governo cedendo ao senso comum sem jamais se contrapor a ele.

É  o caso da construção da imagem de partido sem problemas com corrupção. É impossível conquistar o poder usando os meios porcos criados pela classe dominante sem se manchar. Agora, o mesmo senso comum que levou o PT ao poder o identifica como único responsável pelas sujeiras da política oficial.

Infelizmente, os outros partidos de esquerda cometem erro semelhante. A começar pela ausência de uma imprensa diária de grande alcance. Por isso, na atual crise política, mal conseguimos no distinguir dos petistas. Somos quase tão mal falados pela maioria do povo quanto o PT.

A entrevista está
disponível aqui.

Leia também:
O partido da mídia tem lado. E o governo?

4 comentários:

  1. Excelente em todos os pontos esta pílula. Quanto ao veículo de comunicação hoje, não sei dizer qual seria. Jornal de partido não poderia ser. Mas o mais interessante desta pílula, é justamente não conseguir diferenciar os comunistas dos petistas, problema que sempre carregamos e que hoje em dia se tornou mais problemático. Outro ponto interessante é achar que chegando ao governo no sistema capitalista a gente não teria problemas de nos imiscuirmos com as mazelas deste sistema. Parabéns.

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  2. É isso aí, Marião. Mas tem outra coisa ainda. É a ideia metafísica de que ao falarmos entre nós, revolucionários ou apenas socialistas, também alcançamos a grande maioria que não se coloca nessas condições. Para começar, entre nós e a grande maioria que nem pensa em mudanças sociais há um campo de militantes que lutam por reformas possíveis. E não conseguimos falar direito nem com este povo, quanto mais com o restante. E não se trata apenas de falar (é só força de expressão). Se trata de ganhar sua atenção respeitosa e não apenas tolerante. A minha impressão é que nós, da esquerda, paramos no racionalismo iluminista, em que bastaria uma argumentação bem feita para convencer as pessoas de nossas ideias. Isso pode funcionar em relações solidamente hierárquicas, em que o que vale mesmo é a autoridade e a capacidade de punir de quem fala. É o tipo de mecanismo que, adotado pelos revolucionários, acaba reproduzindo a ordem dominante.
    Bração!

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  3. Texto fala de "esquerda", você usa meia linha pra falar dos outros partidos (como PSOL, PSTU, e o atual PCB), tem mais interesse em criticar o PT pelo PT, do quê propor caminho, na "necessária luta por hegemonia" (de fato é), não entendo como os partidos como (o PSOL) busca disputar e ocupar os espaços, não vi ngm deles falando sobre, nem aqui.

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  4. O texto fala principalmente do PT porque é um dos maiores partidos de esquerda já criados no mundo. Porque o PT está no governo. Porque os outros partidos de esquerda são politicamente insignificantes perto do PT, ainda que contem com gente muito combativa. E se falo deles apenas para dizer que repetem os erros do PT já há um julgamento bastante rigoroso de minha parte em relação a eles.
    Abraço

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