Doses maiores

15 de abril de 2015

Não enterrem nossos corações em Brasília

No livro “Enterrem meu Coração na Curva do Rio”, Dee Brown relata o extermínio dos índios da América do Norte pelo colonizador branco.

O título se refere a um massacre ocorrido, em 1890, próximo a um rio, dentro de uma reserva indígena. O assassinato covarde de centenas de indígenas marcaria a vitória final das tropas militares estadunidenses sobre a resistência nativa.

Os mortos eram sioux. Sioux quer dizer “homens-búfalo”, devido a sua intima ligação com estes animais. Segundo uma profecia, se os búfalos desaparecessem, eles também seriam extintos. De fato, quando os brancos chegaram no século 16, havia 75 milhões de búfalos. No momento do massacre, não passavam de 3 mil.

Desde 13 de abril mais de mil lideranças indígenas ocupam Brasília em defesa de seus territórios. Eles querem impedir aprovação da Emenda Constitucional 215. A proposta pretende transferir ao Congresso Nacional a atribuição de demarcar terras indígenas, territórios quilombolas e unidades de conservação.

Com isso, um parlamento dominado por ruralistas e representantes de grandes empresas inviabilizaria a demarcação das terras. Essa atribuição é do Executivo, hoje, exatamente porque a ele cabe apenas executar o que manda a Constituição, não discutir suas determinações.

As terras para nossos índios e quilombolas são como os búfalos para os sioux. Não se trata de exploração destrutiva, mas de metabolismo sócio-natural. Uma relação que deveria nos servir de modelo para deter as catástrofes ambientais que causamos.

O massacre que pode acontecer no Congresso seria simbólico. Mas representaria uma vitória do desenvolvimento predatório com consequências muito reais para todos nós. Não podemos deixar que enterrem nossos corações naquele solo amaldiçoado.
 
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3 comentários:

  1. Linda lembrança do livro para associar a mais um extermínio.

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  2. No caso o nome do autor é Dee Brown. Bom texto, boa reflexão :)

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