Se não fosse pelos indígenas, não teríamos bichos de estimação. É o que revela
a interessante reportagem “Viagem ao passado ‘animal’”, de Flávia Milhorance,
publicada no Globo em 28/03.
A matéria refere-se ao livro “Representações da fauna no Brasil - Séculos
XVI-XX”, organizado pela historiadora Lorelai Kury. Segundo o estudo, os
indígenas não tinham uma relação utilitária com os animais. Flávia exemplifica:
Papagaios, araras, periquitos, macacos, porcos do mato, quatis e até mesmo
serpentes e tantos outros animais eram recolhidos das florestas tropicais e
criados nas aldeias como mascotes.
Já para os colonizadores, “o gato servia para caçar ratos, enquanto que o
cachorro era usado no pastoreiro, no transporte, em tarefas diárias nas cidades
ou no campo na Europa.”
Esta foi a regra até a chegada dos europeus às Américas. Assim, diz a
reportagem, a “intimidade que temos hoje com nossos animais de estimação foi
aprendida a partir do período da colonização”.
Na verdade, os índios adotam os animais e cuidam deles como se fossem suas
crianças. Mas, assim que são capazes de se cuidar, eles têm que sobreviver às próprias
custas.
É uma concepção bem diferente da que prevaleceu com o domínio do capitalismo,
sob o qual vale o imperativo de que é preciso transformar tudo em objeto de
exploração. Inclusive, e principalmente, a vida.
Felizmente, estudos como o divulgado pela reportagem mostram que outras lógicas
são possíveis. E nosso cotidiano, cheio de lulus, bichanos, loros, revela que
nossa espécie ainda tem salvação. É possível nos relacionar com a
natureza por seus valores de estimação e não pela estimativa de seus valores.
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