Doses maiores

22 de abril de 2015

A mais estimada das contribuições indígenas

Se não fosse pelos indígenas, não teríamos bichos de estimação. É o que revela a interessante reportagem “Viagem ao passado ‘animal’”, de Flávia Milhorance, publicada no Globo em 28/03.

A matéria refere-se ao livro “Representações da fauna no Brasil - Séculos XVI-XX”, organizado pela historiadora Lorelai Kury. Segundo o estudo, os indígenas não tinham uma relação utilitária com os animais. Flávia exemplifica:

Papagaios, araras, periquitos, macacos, porcos do mato, quatis e até mesmo serpentes e tantos outros animais eram recolhidos das florestas tropicais e criados nas aldeias como mascotes.

Já para os colonizadores, “o gato servia para caçar ratos, enquanto que o cachorro era usado no pastoreiro, no transporte, em tarefas diárias nas cidades ou no campo na Europa.”

Esta foi a regra até a chegada dos europeus às Américas. Assim, diz a reportagem, a “intimidade que temos hoje com nossos animais de estimação foi aprendida a partir do período da colonização”.

Na verdade, os índios adotam os animais e cuidam deles como se fossem suas crianças. Mas, assim que são capazes de se cuidar, eles têm que sobreviver às próprias custas.

É uma concepção bem diferente da que prevaleceu com o domínio do capitalismo, sob o qual vale o imperativo de que é preciso transformar tudo em objeto de exploração. Inclusive, e principalmente, a vida.

Felizmente, estudos como o divulgado pela reportagem mostram que outras lógicas são possíveis. E nosso cotidiano, cheio de lulus, bichanos, loros, revela que nossa espécie ainda tem salvação. É possível nos relacionar com a natureza por seus valores de estimação e não pela estimativa de seus valores.

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