Politicamente, a classe média costuma
ser objeto do ódio da esquerda e de defesa interesseira pela direita. Mas,
sociologicamente, aversão ou bajulação em nada ajudam a esclarecer esse
conceito, sempre tão complicado.
Em um trecho do ensaio de crítica literária “Ao vencedor as batatas”, Roberto Schwarz dá algumas pistas para compreender o lugar da classe média na formação da estrutura de classes brasileira:
Em um trecho do ensaio de crítica literária “Ao vencedor as batatas”, Roberto Schwarz dá algumas pistas para compreender o lugar da classe média na formação da estrutura de classes brasileira:
Esquematizando,
pode-se dizer que a colonização produziu, com base no monopólio da terra, três
classes de população: o latifundiário, o escravo e o ‘homem livre’, na verdade
dependente (...). Nem proprietários nem proletários, seu acesso à vida social e
a seus bens depende materialmente do favor, indireto ou direto, de um grande.
(...) O favor é, portanto, o mecanismo através do qual se reproduz uma das
grandes classes da sociedade, envolvendo também outra, a dos que têm. Note-se
ainda que entre estas duas classes é que irá acontecer a vida ideológica,
regida, em consequência, por este mesmo mecanismo. Assim, com mil formas e
nomes, o favor atravessou e afetou no conjunto a existência nacional,
ressalvada sempre a relação produtiva de base, esta assegurada pela força.
(...) O favor é a nossa mediação quase universal – e sendo mais simpático do
que o nexo escravista, a outra relação que a colônia nos legara, é
compreensível que os escritores tenham baseado nele a sua interpretação do
Brasil, involuntariamente disfarçando a violência, que sempre reinou na esfera
da produção.
De fato, grande parte de nossa classe
média mostra-se prisioneira dessa mistura de favor e violência, herança escravista
e produção sob coação. Uma síntese profundamente conservadora e antipopular.
Leia também: Diante da Casa Grande, a classe média abana o rabo
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