Doses maiores

25 de junho de 2015

Privatização não é coisa pra português de padaria

No final dos anos 1940, Assis Chateaubriand possuía 30 jornais e revistas, 15 rádios, e uma editora.

Mas grande parte deste patrimônio foi adquirido sem dinheiro. Dizem que Chateaubriand costumava afirmar: “Comprar com dinheiro qualquer português de padaria compra. A competência está em comprar sem dinheiro”.

A “competência” a que se referia o magnata podia ser traduzida por amigos poderosos acobertando as piores chantagens.

Quem ousasse cobrar de Chateaubriand o dinheiro devido passava a ser imediatamente caluniado em seus jornais. Sob a proteção de autoridades como o próprio ditador Getúlio Vargas, só restava ao credor aceitar o calote.

Passadas muitas décadas, os grandes empresários do País continuam a fazer negócios sem dinheiro. Mas, desde as privatizações tucanas, grande parte dos recursos vêm saindo dos bolsos dos trabalhadores por meio do BNDES. Sob os governos petistas, não é diferente.

É o que se deduz do que publicou Murilo Rodrigues Alves no Estadão, em 23/06. Segundo a reportagem, o banco estatal vai financiar até 70% dos investimentos previstos no pacote das concessões que o governo acaba de anunciar. Boa parte dessa verba vem do FGTS.

São R$ 10 bilhões para financiar projetos como a Hidrelétrica de Santo Antônio, a usina nuclear Angra 3, os aeroportos de Galeão e Guarulhos e ferrovias da Vale. Odebrecht e Andrade Gutierrez estão entre as empreiteiras beneficiadas.

No mundo todo, o Estado está a serviço dos grandes proprietários de capital. É uma lei da ditadura do mercado. Mas em alguns lugares, como aqui, esta subordinação acontece de forma escancarada.

E que se danem os “portugueses de padaria” e nós, seus humildes 
fregueses.

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