Doses maiores

4 de dezembro de 2015

O governo petista e a dieta das onças

“Cutucando onças com vara curta”. É assim que André Singer, ex-porta voz do presidente Lula, definiu a situação de Dilma Roussef em uma entrevista publicada pelo El País, em 10/10. Bem antes da atual confusão, portanto.

Segundo Singer, o governo Lula teria conseguido montar uma aliança entre “a classe trabalhadora organizada e o setor industrial”, em 2010. O acordo teria dado origem a um documento assinado por Fiesp, CUT e Força Sindical, em maio de 2011.

Entre as reivindicações, “redução dos juros, desvalorização do real, favorecimento do produto nacional, combate ao capital especulativo, política industrial, desoneração da folha de pagamento...”. Exigências que teriam desagradado os banqueiros, diz o entrevistado.

Mas no final de 2012, diz Singer, “a burguesia industrial começa a se afastar, apesar de todas as reivindicações terem sido atendidas” pelo governo Dilma. Teriam voltado a se aliar ao setor financeiro, exigindo a “disciplina fiscal” que faz a alegria dos especuladores. A isso, o governo petista viria a responder com um vergonhoso recuo, uma vez reeleito.

Singer levanta hipóteses sobre as razões da mudança de posição dos empresários, mas deixa de lado o principal. Com onças não se deve fazer alianças e muito menos cutucá-las, sob o risco não desprezível de que acabem jantando o provocador.

Agora, o governo petista pede socorro aos movimentos sociais e muitos outros setores explorados não incluídos na aliança de 2011. Mas continua a reafirmar sua intenção de manter a dieta exigida pelos felinos que começam a devorá-lo.


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