Em um famoso capítulo de “O Capital”, Marx fala sobre a
transição produtiva entre antigos processos de trabalho e aqueles sob a lógica
do capital:
Na manufatura e no artesanato, o
trabalhador se serve da ferramenta; na fábrica, ele serve à máquina. Lá, o
movimento do meio de trabalho parte dele; aqui, ao contrário, é ele quem tem de
acompanhar o movimento. Na manufatura, os trabalhadores constituem membros de
um mecanismo vivo. Na fábrica, tem-se um mecanismo morto, independente deles e
ao qual são incorporados como apêndices vivos.
Mais de 150 anos depois, o fenômeno só se aprofundou.
Funcionamos cada vez mais como acessórios de sistemas robotizados e informatizados,
e não apenas em fábricas.
Mas não é só isso. Muita gente começa a ter calafrios só
de pensar na possibilidade de ficar sem bugigangas eletrônicas como smartphones
e tablets, diz Ronaldo Lemos, na Folha de S. Paulo em 04/01. Segundo o
colunista, nossas dificuldades para ficar longe desses “apêndices” tecnológicos
deve-se ao fato de que eles:
... não são mais apenas ferramentas de
comunicação, mas moduladores do nosso estado emocional. A forma como as mídias
sociais são desenhadas propicia um sistema de pequenas recompensas (e
frustrações) que interfere diretamente na nossa sensação de bem-estar.
Essa escravidão aos aparelhos eletrônicos não está
diretamente ligada ao fenômeno a que se referiu Marx. Mas grande parte das
“recompensas” proporcionadas por nossos “gadgets” fazem parte da lógica daquela
produção.
De um lado e de outro, doenças parecidas. A maior
diferença é que na ponta do consumo, a retirada do apêndice consegue piorar a
apendicite.
Leia também: Robotização, para nossa
alegria e a dos cavalos
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