“Recuperação dos EUA é êxito da economia de mercado” diz editorial do Globo de
24/01. O texto começa identificando uma “fase de assincronia” na economia
mundial, comparando a “recuperação” da economia americana com a desaceleração
da China, “segundo maior parque produtivo mundial”.
Para o Globo, este momento:
... serve para comparações entre os
dois modelos: o de um capitalismo selvagem de Estado, sob um regime ditatorial
de partido único, e o outro, uma economia de mercado assentada numa sólida
democracia representativa e em uma sociedade aberta.
Estranha “democracia representativa” esta, em que 10% da
população fica com metade de toda a renda do país. E o que dizer de uma
“sociedade aberta” que colocou 47 milhões abaixo da linha da pobreza?
Mas o que realmente não faz sentido é omitir que a China
só se tornou o “segundo maior parque produtivo mundial” por que o grande
capital ocidental, liderado pelos Estados Unidos, foi buscar lá a
força-de-trabalho abundante e barata que a ditadura do partido único colocou a
sua disposição.
É por isso que chega a ser delirante achar que os
problemas da economia chinesa servirão como prova de que o modelo “socialista” ou
“comunista” fracassou. Na verdade, só mostrarão que a integração da economia
chinesa ao capitalismo mundial não trouxe apenas imensos lucros e mais
concentração de riqueza e poder para alguns poucos. Também acumulou
contradições que ameaçam toda a economia global.
Mas o pior, mesmo, é ver o Globo ter o gostinho de citar o
entusiasmo igualmente delirante que boa parte da esquerda manifesta em relação ao
desastroso capitalismo de estado chinês.
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