Doses maiores

4 de dezembro de 2018

Edição genética e escolhas humanas

No final de novembro, He Jiankui, cientista da Universidade de Shenzhen, na China, anunciou ter criado os primeiros bebês geneticamente modificados do mundo. O objetivo seria tornar imunes ao vírus do HIV as duas gêmeas nascidas do procedimento.

O anúncio causou uma onda inicial de indignação. A edição genética de embriões é condenada pela grande maioria da comunidade científica. É que essa técnica poderia causar problemas imprevisíveis e irremediáveis para quem as sofre e seus descendentes.

Por isso, a prática é vetada por lei em vários países. Mas como não há impedimento legal na China, a questão passou a ser somente ética. Nem tudo o que não é proibido, pode necessariamente ser feito. É um debate que envolve valores. O maior deles sendo a integridade da vida humana.

Uma das alegações do geneticista chinês em sua defesa é que portadores de HIV sofrem muito preconceito em seu país. De novo, a questão envolve valores. A solução seria priorizar a manipulação genética ou o combate à discriminação?

O fato é que em se tratando de valores, aqueles que dominam a sociedade atual estão muito claros. É só observar as ações de empresas como “Editas”, “Intellia” e “Crispr Therapeutics”, proprietárias de patentes ligadas à técnica utilizada por He. Nos últimos dias, o preço de seus papéis disparou, com aumentos entre 10 e 20%.

Há muito conhecimento milenar acumulado sobre a importância das escolhas humanas. Mas ele continua a ser desprezado por áreas de pesquisa científica que foram sequestradas pela busca do lucro.

Enfim, tudo indica que o chinês está no caminho certo. A humanidade é que não.

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