Em dezembro
de 2018, as músicas mais tocadas segundo o site https://maistocadas.mus.br/ eram
interpretadas por Gusttavo Lima, Felipe Araújo, Humberto e Ronaldo, Wesley
Safadão, Luan Santana, Zé Neto e Cristiano, Henrique e Juliano, Eduardo Costa, Bruno
e Marrone.
Com exceção do
forró de Safadão, o restante dos artistas canta música sertaneja. A predominância
masculina, vez por outra, abre exceção para Marília Mendonça, Maiara e Maraísa e
Simone e Simaria.
Quase todos
os nomes dessa lista certamente são desconhecidos da grande maioria dos setores
militantes da esquerda. Mas este é só um exemplo. Nossa ignorância é grande não
apenas em relação ao gosto musical das multidões. E isso ficou tragicamente claro
com o resultado das últimas eleições presidenciais.
Deveríamos ter
prestado muito mais atenção ao mundo externo a nossos circuitos acadêmicos,
partidários, militantes. Externo à nossa MPB, ao nosso jazz, aos nossos
barzinhos da moda e, principalmente, ao nosso olhar distante e altivo.
Nada disso quer
dizer que vamos prestar mais atenção ao senso comum para aceitar passivamente sua
lógica. A indústria por trás desses sucessos não apenas lucra muito financeiramente.
Também capitaliza na disputa de valores.
As músicas mais
ouvidas falam basicamente sobre o mesmo tema. Baladas, bebida e mulheres. Estas
últimas, geralmente, fazem os homens sofrer. Elas vivem a rejeitá-los. Reprovam
suas traições e orgias. São belas, mas cruéis. Enfim, uma misoginia que pretende
ser sutil atravessa as rimas.
Segundo nosso
poeta favorito, “Narciso acha feio o que não é espelho”. Não tem nada de muito
bonito na paisagem cultural da sociedade em que vivemos. Mas não adianta fingir
que ela não existe.
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Sérgio, eu não gosto de música sertaneja, que tipo de atenção devo ter? Ouvir para estudar? Falar que gosto para me aproximar de quem gosta? Discutir seus valores e temáticas? Não entendi. Abraços
ResponderExcluirTambém não gosto. Não desta aí. Mas basta que saibamos que nosso gosto musical é minoritário, assim como muitos dos valores que temos e defendemos. É só uma questão de olhar pra fora da "bolha" da esquerda para começarmos a entender porque as últimas eleições acabaram como acabaram. Enfim, não se faz disputa de hegemonia, sem saber o que estamos enfrentando.
ExcluirBeijo