Doses maiores

11 de dezembro de 2018

Os narcisos da esquerda não ouvem música sertaneja

Em dezembro de 2018, as músicas mais tocadas segundo o site https://maistocadas.mus.br/ eram interpretadas por Gusttavo Lima, Felipe Araújo, Humberto e Ronaldo, Wesley Safadão, Luan Santana, Zé Neto e Cristiano, Henrique e Juliano, Eduardo Costa, Bruno e Marrone.

Com exceção do forró de Safadão, o restante dos artistas canta música sertaneja. A predominância masculina, vez por outra, abre exceção para Marília Mendonça, Maiara e Maraísa e Simone e Simaria.

Quase todos os nomes dessa lista certamente são desconhecidos da grande maioria dos setores militantes da esquerda. Mas este é só um exemplo. Nossa ignorância é grande não apenas em relação ao gosto musical das multidões. E isso ficou tragicamente claro com o resultado das últimas eleições presidenciais.

Deveríamos ter prestado muito mais atenção ao mundo externo a nossos circuitos acadêmicos, partidários, militantes. Externo à nossa MPB, ao nosso jazz, aos nossos barzinhos da moda e, principalmente, ao nosso olhar distante e altivo.

Nada disso quer dizer que vamos prestar mais atenção ao senso comum para aceitar passivamente sua lógica. A indústria por trás desses sucessos não apenas lucra muito financeiramente. Também capitaliza na disputa de valores.

As músicas mais ouvidas falam basicamente sobre o mesmo tema. Baladas, bebida e mulheres. Estas últimas, geralmente, fazem os homens sofrer. Elas vivem a rejeitá-los. Reprovam suas traições e orgias. São belas, mas cruéis. Enfim, uma misoginia que pretende ser sutil atravessa as rimas.

Segundo nosso poeta favorito, “Narciso acha feio o que não é espelho”. Não tem nada de muito bonito na paisagem cultural da sociedade em que vivemos. Mas não adianta fingir que ela não existe.

2 comentários:

  1. Sérgio, eu não gosto de música sertaneja, que tipo de atenção devo ter? Ouvir para estudar? Falar que gosto para me aproximar de quem gosta? Discutir seus valores e temáticas? Não entendi. Abraços

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    1. Também não gosto. Não desta aí. Mas basta que saibamos que nosso gosto musical é minoritário, assim como muitos dos valores que temos e defendemos. É só uma questão de olhar pra fora da "bolha" da esquerda para começarmos a entender porque as últimas eleições acabaram como acabaram. Enfim, não se faz disputa de hegemonia, sem saber o que estamos enfrentando.

      Beijo

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