Doses maiores

7 de dezembro de 2018

As feministas que leem Marx não estão contentes

Um belo texto de Laura Fernández Cordero sobre a obra de Marx e o feminismo está disponível no portal da Unisinos. Doutora em Ciência Sociais pela Universidade de Buenos Aires, ela afirma ser um “veredicto muito infeliz” dizer que Marx era "cego ao gênero".

Laura começa por descrever Marx como:

...o marido da abnegada Jenny, companheira no caminho do exílio e da miséria. O obstinado por um empreendimento revolucionário, que estava sempre acima de sua família. Aquele que, apesar do anacronismo, mereceria a acusação homofóbica. Aquele que fez teoria sobre a situação das mulheres em termos antropológicos, históricos e políticos. E também aquele Marx que acompanhou o crescimento de três filhas e escritoras políticas e, quando isso não era comum, levou a sério o questionamento de uma mulher (sabe-se que foram necessários muitos rascunhos para responder Vera Zasúlich sobre a viabilidade de uma revolução na atrasada Rússia czarista).

Exatamente por isso, diz ela, havia mulheres que prestavam atenção ao que ele fazia. Foram elas que “tiraram-lhe as barbas junto com outros feminismos não marxistas”. “Traduziram a dominação patriarcal em teorias, em conceitos, em revoluções pessoais, em práticas políticas”. Seriam:

Laboriosas mineiras dessa mina falaciosa que é a "natureza humana". Escavadoras que perfuraram o solo tranquilo do Ocidente viril, assim como aquela velha escavação da revolução que Marx esperançava.

Estariam ajudando a promover “uma revolução da subjetividade que, longe do novo homem, continua a pôr em xeque a tão mencionada universalidade do humano”.

Afinal, conclui Laura, Marx “não era um conciliador, nem um cara gentil. Ele não estava contente. Nós feministas que lemos Marx também não estamos”.

Leia também: Os preconceitos raciais de Marx

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