Karl Marx não é para nós nem a criança que
geme no berço nem o terror barbado dos sacristãos. Não é nenhum dos episódios
anedóticos de sua biografia, nenhum gesto brilhante ou grosseiro de sua
animalidade humana exterior. É um cérebro vasto e sereno que pensa, um momento
único da busca laboriosa e secular que a humanidade faz para se conscientizar
de seu ser e de sua mudança, capturar o misterioso ritmo da história e dissipar
seu mistério, ser mais forte em pensar e fazer. É uma parte necessária e
integrante do nosso espírito, que não seria o que é se Marx não tivesse vivido,
pensado, rasgado faíscas de luz com o choque de suas paixões e suas ideias,
suas misérias e seus ideais.
O trecho acima é de um artigo escrito por Antonio Gramsci em 1918
para o centenário de nascimento do grande revolucionário.
O texto começa perguntando: “Somos marxistas?”. Uma pergunta, diz ele, cujas
possíveis respostas consumirão “rios de tinta e estupidez”. Mas para enfrentar essa
questão de modo adequado, afirma, o mais importante é entender que “Marx não
escreveu um evangelho”. Que ele:
...não é um messias que deixou uma série de
parábolas carregadas de imperativos categóricos, regras absolutas e
indiscutíveis, fora das categorias de tempo e espaço. Seu único imperativo
categórico, sua única norma é: "Proletários do mundo todo, uni-vos".
Portanto, a diferença entre marxistas e não marxistas teria que consistir no
dever de organização e propaganda, no dever de organizar e associar-se. Demais
e muito pouco...
É o básico e o fundamental. É só o começo, mas indispensável.
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