Para o escritor paulistano Ricardo Lísias, os tempos
não estão para contemporizações. Por isso, ele eliminou todas as conjunções
adversativas — mas, no entanto, todavia, entretanto, contudo, não obstante — de
seu novo projeto literário, “Diário da catástrofe brasileira”.
É
assim que Ruan de Sousa Gabriel introduz a entrevista que fez com Lísias, publicada
na revista Época em 15/12/2018. “Eu não quero contemporizar. De todas as
funções gramaticais, a adversativa é que não podemos usar agora. Já fizemos
isso demais. Eu já fiz isso demais”, afirma.
Segundo
o repórter, Lísias “não engoliu nenhuma das formulações da intelectualidade de
esquerda que, primeiro, assegurava que Jair Bolsonaro jamais seria presidente
e, agora, esforça-se para explicar o sucesso eleitoral da direita”.
Seu
alvo principal é o que chama de “safatlismo”, referindo-se ao filósofo Vladimir
Safatle. Segundo ele:
...trata-se da mania de explicar tudo, sempre
analisando os outros e jamais colocando em questão os próprios equívocos.
Quando ocorrem, por mais evidentes e patéticos que sejam, a pessoa simplesmente
continua o hábito da explicação, sem jamais anunciar — e muito menos discutir —
o erro que cometeu.
É
justa a revolta do escritor com alguns de nossos intelectuais. Mas (opa!) o fenômeno
poderia ser chamado de “haddadismo”, também. Ou “lulismo”.
A
militância de esquerda costuma usar a expressão “conjuntura adversa” para situações
desfavoráveis. Jamais foi tão adequada. E numa situação dessas, fica difícil não
utilizarmos as tais conjunções adversativas. Elas nos ajudam a questionar raciocínios
fechados como os que andaram nos colocando em muitos becos sem saída, ultimamente.
De
qualquer maneira, e sem mais “poréns”, que saibamos enfrentar as adversidades
de 2019 com muita luta!
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Mas, como não contemporizar sem resvalar para o esquerdismo e sem usar a ferocidade fascista? Falar é fácil. Complicado...
ResponderExcluirPois é, Mauro, como disse, a revolta dele é até justa, mas não dá pra levar em consideração todas as complicações que se meteram em nosso caminho. Quem sabe escrevendo do diário dele, ele vá encontrando um jeito de "contemporizar" dialeticamente.
ExcluirAbraço!