Doses maiores

6 de dezembro de 2018

Os genes recessivos do fascismo

Em seu livro “A Pátria Educadora em Colapso”, Renato Janine Ribeiro narra seus poucos meses como Ministro da Educação de Dilma Roussef. 

Em setembro de 2015, ele afirma ter recebido alguns deputados que diziam representar a bancada católica. Queriam banir a educação sexual das escolas. As aulas deveriam se limitar ao funcionamento dos órgãos reprodutores. “Só a biologia!”, resumiu um deles.

Em matéria publicada pelo El País, em 04/12/2018, Felipe Betim descreve alguns momentos do 4º Congresso Nacional do Movimento Brasil Livre (MBL), realizado na capital paulista. 

Falando para quase mil pessoas, um dos dirigentes da organização conservadora reivindicou o caráter “rebelde” do movimento, afirmando que ao falar “da biologia, que existe homem e mulher, e não 50 gêneros, estamos sendo subversivos”.

Num e noutro momento, a tentativa de reduzir a vida social a seu nível biológico. Comportamentos históricos seriam produto de determinações puramente naturais. 

A esse reducionismo, o marxista estadunidense Fredric Jameson respondeu no artigo "La política de la utopía", publicado na edição da “New Left Review” de janeiro de 2004, do seguinte modo:

...dado que a natureza humana é histórica e não natural, dado que é um produto de seres humanos e não é inatamente registrada em genes ou em DNA, os seres humanos podem mudá-lo, isto é, não é uma condenação ou um destino, mas, ao contrário, o resultado da práxis humana.

A tentativa de “biologizar” a vida social, criando hierarquias congênitas, é certamente um dos traços genéticos do fascismo. Mesmo que nos casos acima ele ainda apresente caráter recessivo, cabe à práxis socialista e libertária impedir que se torne socialmente dominante. 

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