Doses maiores

25 de novembro de 2019

A cibernética derrota o sindicalismo estadunidense

O relato abaixo é do livro “Cyber-Proletariat”, de Nick Dyer-Witheford.

Em 1949, Norbert Wiener, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, pioneiro da nova disciplina de “cibernética”, escreveu a Walter Reuther, presidente do sindicato dos trabalhadores das indústrias automobilísticas, sediado em Detroit.

Na carta, ele diz que recebeu solicitação de uma "grande empresa" para ajudá-la a desenvolver "uma máquina de computação de pequena escala, com alta velocidade e baixo custo". Tecnicamente, Wiener considerava o projeto relativamente simples. Mas, socialmente, dizia ele, as implicações eram preocupantes. Sem dúvida, uma tecnologia dessas levaria à produção sem trabalhadores, como, por exemplo, uma “linha de montagem automática”. Desse modo, concluía, uma “situação crítica” surgirá em “dez ou vinte anos”.

Wiener recusou o pedido da empresa, mas alertou Reuther de que, no futuro, não seria suficiente adotar uma atitude "passiva". Para ele, os sindicatos deveriam adquirir os direitos sobre aquelas novas tecnologias ou fazer campanha para sua supressão.

Mas o sindicalismo que Reuther representava nunca se propôs a desafiar o controle do capital dos computadores da maneira que Wiener sugeriu.

No final da Segunda Guerra Mundial, Detroit possuía a maior renda média entre as grandes cidades do país. No final dos anos 1990, já não era a capital do automóvel. Desde a crise de 2009, a entidade perdeu 77% de seus membros.

Cibernética diz respeito à seguinte questão: quem, ou o quê, governa na era das máquinas inteligentes. Até o momento, a resposta é o capital. Mas para entender melhor esse "declínio do trabalhador coletivo de massa” será precisa olhar para o outro lado dos Estados Unidos: o Vale do Silício.

2 comentários:

  1. Interessante a posição de um técnico sobre a questão social que o desenvolvimento tecnológico sob controle do capital pode trazer. Normalmente, técnicos só enxergam desenvolvimentos tecnológicos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, uma raridade. Ainda mais que contrastou com a indiferença do sindicalista. Este sim, deveria estar muito mais atento.

      Excluir