Doses maiores

27 de novembro de 2019

A esquerda precisa olhar para os extremos (2)

A recente guinada à esquerda dos trabalhistas ingleses é um retorno ao antigo programa do estado de bem-estar social. Uma proposta que pretendia ser um caminho sensato entre “socialismo estatal” e “capitalismo selvagem”.  

Mas essa solução meia-boca foi imposta por um cenário em cujas extremidades estavam dois arsenais atômicos capazes de destruir várias vezes o planeta.

Eric Hobsbawm chamou “Era dos Extremos” ao século do auge capitalista. Mas o capitalismo jamais abandonou o extremismo.

Os capitalistas sempre usaram o proletariado como bucha-de-canhão para resolver seus conflitos com a antiga aristocracia ou entre eles mesmos.

Às exigências dos trabalhadores, a burguesia costuma responder com massacres. Com destaque para a carnificina provocada por duas guerras mundiais e uma revolução proletária afogada em sangue.

No final do século passado, o capitalismo comemorou a dissolução da União Soviética. Seria o fim da Era dos Extremos, não fosse pelos aviões que atingiram as Torres Gêmeas.

Em praticamente todo o sul global, a democracia não passa de encenações mambembes patrocinadas pelo imperialismo. Nesses lugares, ditaduras truculentas sucedem democracias violentas e vice-versa.

Se é fundamental defender as liberdades políticas e civis, a ditadura econômica do dia-a-dia transforma as “franquias democráticas” em luxo para poucos.

Terminado o último espasmo de bonança econômica, nova onda autoritária atinge a enorme maioria do planeta. E, por aqui, muitos pretendem reagir a ela apelando aos valores democráticos da Casa Grande.

A esquerda deve olhar para os extremos porque num deles o inimigo mantêm seus cães emboscados. E no outro, fica a radicalidade da exploração e opressão, único lugar capaz de parir verdadeiras alternativas de luta.

Leia também: A esquerda precisa olhar para os extremos (1)

2 comentários:

  1. Serginho, perfeito, uma coisa que não me sai da cabeça é o título do livro do Hobsbawn. Acho que preciso até relê-lo. De tantas incertezas sobre o momento atual, só de uma tenho certeza, vivemos a era dos extremos, quer dizer, mais extremos à direita que à esquerda. Linda frase com a qual encerra esta Pílula. Bjs.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Li o livro do Hobsbawm há muito tempo também. Mas acho que os extremos a que ele se referia eram mais o resultado do contraste entre enorme capacidade produtiva e o tremendo potencial destrutivo que o capitalismo alcançou e se revelou no século 20.Valeu o comentário, Marião!Beijo

      Excluir