Doses maiores

21 de novembro de 2019

Mulheres negras da família Liberdade

A historiografia costuma encontrar sérios problemas quando se trata de coletar dados biográficos sobre mulheres consideradas importantes. A adoção dos sobrenomes de seus maridos muitas vezes torna muito difícil o levantamento de sua história pessoal. Mesmo as mais destacadas, acabam tendo sua individualidade soterrada pela dos homens com quem conviviam.

Se isso é verdade para mulheres de origem europeia, imagine para as não brancas. Pior ainda, se elas foram personagens extraordinárias na luta e resistência de povos escravizados, como os negros e indígenas. Grandes exemplos dessa situação são Aqualtune, Dandara e Luiza Mahin.

Aqualtune frequentemente é descrita como mãe de Ganga Zumba e avó de Zumbi dos Palmares. Mas há razões para acreditar que, muito além disso, ela foi a principal figura na fundação e organização do mais famoso quilombo. Inclusive, do ponto de vista militar.

Dandara também é apontada como esposa de Zumbi. Dificilmente, ela deve ter desempenhado somente esse papel menor. Certamente, mais que mulher de um líder, ela exerceu papel fundamental à frente de uma grande comunidade sob forte cerco dos escravocratas.

Por fim, Luiza Mahin costuma ser identificada como a mãe do grande escritor abolicionista Luiz Gama. No entanto, ela participou ativamente da Revolta dos Malês, na Bahia, em 1835. E pela perseguição que sofreu, muito provavelmente, exerceu funções de direção do movimento.

Há quem diga que a exatidão científica sobre a vida dessas mulheres jamais poderá ser estabelecida. É provável que não. Afinal, é isso que interessa à ciência dos dominadores. Mas a verdade que elas representam está consolidada pelas lutas de que participaram. O sobrenome delas é Liberdade.

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