“Do fascismo ao populismo” é o mais recente livro do historiador argentino Federico Finchelstein, ainda sem edição em português. A obra procura mostrar como é equivocado tratar esses dois fenômenos políticos como sendo a mesma coisa.
Ele admite, no entanto, que fascismo e populismo apresentam muitas semelhanças. Na verdade, diz Finchelstein, o populismo moderno seria uma espécie de adaptação do fascismo à democracia, após a derrota nazista na Segunda Guerra. Mas com uma grande diferença. O populismo depende das disputas eleitorais para conquistar e manter-se no poder.
Populistas costumam corromper os processos democráticos, perseguir a oposição impiedosamente, combater o pluralismo partidário, mas fazem tudo isso com o objetivo de vencer as eleições. Vitoriosos ou derrotados, jamais tentam eliminar totalmente a democracia.
Já os fascistas, até chegam a disputar eleições, mas, na primeira oportunidade, procuram destruir tudo o que lembra ou aparenta ser democracia. Exercer o poder para eles é impor uma ditadura violenta. Qualquer um que lhes faça oposição deve ser imediatamente aniquilado.
O fascismo toma o poder não apenas para monopolizar a violência, mas para voltá-la contra tudo e todos que se coloquem em seu caminho. Com a única exceção dos senhores do grande capital, a quem adoram bajular.
Ou seja, fascismo é antes de tudo violência. Mas violência e muita covardia. A expressão preferida de Mussolini e seus seguidores era “Me ne frego!”. Algo como “Pouco me importo!”. Era assim que respondiam quando eram surpreendidos cometendo os mais cruéis atos contra pessoas indefesas. Mas outra possível tradução para essa expressão fascista nos dias de hoje pode ser “E daí?”.
Tristes dias!
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Ai Sergio, nem muita coisa específica li sobre o populismo, mas não vejo muito os elementos que cita como os seus principais constituintes, e em alguns tenho até dúvida de serem. O populismo se apoia, assim como o fascismo, nas massas despolitizadas, mas o diferencial substancial é que o populismo as tem como o líder paternal, e o fascismo como o agressor. Vc aponta a violência, mas a principal diferença é como cada um deles coopta as massas. Gostei muito da associação que faz do "E daí" do Bolsonaro ao "Me ne frego" do Mussolini. Lá na Moóca a gente costumava usar essa frase italiana, mas não com esse sentido, e sim para "eu não ligo, cada um siga a sua vida". Era o sentido anarquista libertário. Bjs.
ResponderExcluirMarião, tem muitas diferenças e coisas em comum entre fascismo e populismo. O lance que o livro faz bem é mostrar quais são as principais. E aí dentre elas estão as mais importantes. Nesse caso, não tem jeito. Uma é o mínimo de respeito pelas eleições mantido pelo populismo. E isso significa que os resultados eleitorais são aceitos, por mais que não agradem ao populista de plantão ou, em caso de vitória, por mais que esse populista tenha roubado nas eleições. Os fascistas não está nem aí para eleições. Com eles é na porrada sempre. Populistas podem ser bem violentos, mas não é este o principal instrumento deles. Fascistas resolvem tudo na violência. É isso. Todas as outras diferenças me parecem mínimas perto disso.
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