Um dos fenômenos abordados pelo livro “Do transe à vertigem”, de Rodrigo Nunes, é o “identitarismo”. Segundo nosso autor:
Ao contrário da história que a “esquerda anti-identitária” costuma contar, não foi porque passou a se preocupar com o “particular” (negros, mulheres, indígenas, gays…) que a esquerda abriu mão do “universal” (um projeto alternativo de sociedade); foi quando deixou de articular uma ideia própria do todo que ela preencheu o vazio com bandeiras setoriais.
O chamado identitarismo seria, portanto, uma espécie de sintoma, mais do que um mal em si. Ao mesmo tempo, é um fenômeno com raízes no mundo objetivo.
O fato, diz Nunes, é que vivemos a “hipervisibilidade de uma vida social cada vez mais midiatizada” que valoriza a afirmação abstrata de princípios acima do desenvolvimento da capacidade de aplicar esses princípios ao mundo.
É essa postura que acabou prevalecendo entre grupos que acham que afirmar sua identidade de cor, gênero, orientação sexual e menosprezar a luta de classes e a resistência anticapitalista, basta para lutar por transformação social.
Por outro lado, grande parte da esquerda ou se limita a tentar administrar um sistema cada vez mais inadministrável ou idealiza uma revolução distante da vida concreta. Desse modo, também acabam por recair em uma espécie de identitarismo “classista” ou “militante”.
Como diz Nunes, “exigir que as pessoas se convertam a identidades cada vez mais estritas ou abracem ideais cada vez menos tangíveis” são apenas dois caminhos diferentes para cair no isolamento.
Resumindo grosseiramente, cada vez mais confundimos a necessidade de mobilizar as pessoas com a ambição, condenada à frustração, de torná-las iguais a nós.
Eu acho que tanto do lado do que podemos chamar de identitarismo e a esquerda, é que não seriam duas vias antagônicas, mas que não se articulam ou principalmente que prioriza-se uma ou outra, dependendo do lugar onde se encontra.
ResponderExcluirÉ isso. Mas precisa ver até ponto se mantém não antagônico. Enfim, tudo é questão de dialética. Algo que a gente tende a não dominar até que seja tarde demais
ExcluirEu gosto do cabra, quando concordo com ele (espelho meu). Esse Rodrigo é bom, rsrsrs.
ResponderExcluirPorém, me ajudem a entender a crítica que ele faz ao PCO ( e a mim mesmo que gosto de Pimenta): " Ao contrário da história que a “esquerda anti-identitária” costuma contar, não foi porque passou a se preocupar com o “particular” (negros, mulheres, indígenas, gays…) que a esquerda abriu mão do “universal” (um projeto alternativo de sociedade); foi quando deixou de articular uma ideia própria do todo que ela preencheu o vazio com bandeiras setoriais."
Eu achei que ele trocou seis por meia dúzia... ou não?
Não acho que tenha feito crítica ao PCO. Ele não cita outros partidos de esquerda no livro que não seja o PT. Mas nos trechos em questão entendo que ele está criticando tanto a esquerda mais institucional, como a que continua mais militante. A questão é que na ânsia de combater o identitarismo liberal, neoliberal e mesmo o de esquerda, seus críticos à esquerda podem não enxergar seu próprio "identitarismo", que é o da militância isolada em seu mundo de ideias e debates com pouca ressonância na vida concreta da grande maioria. Pior ainda quando essa militância fica tentando consertar um mundo que ou não tem conserto ou só pode ser remediado à custa de muitos milhões de ferrados. Ou seja, o alvo principal é o PT, mesmo. Valeu, Jorge.
ExcluirEntendi. O identitarismo da esquerda revolucionaria é quase um culto. Concordo. Marx está certo, mas viu pouco sobre a hegemonia do capital financeiro. E não viu a força da Mass Media. Quando disse PCO, entenda como metonimia. Perdoe-me, mas continuo nao gostando do identitarismo do viado burro das lojas Renner...
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