Doses maiores

11 de agosto de 2022

O melancólico apego petista a seus erros

O título do livro “Do transe à vertigem”, de Rodrigo Nunes, diz respeito a um dos seus ensaios que compara dois filmes: “Terra em transe”, de Glauber Rocha, e “Democracia em vertigem”, de Petra Costa. O objetivo é “investigar as imagens da derrota política” representada pelas deposições de João Goulart, no primeiro filme, e de Dilma Rousseff, no segundo.

Comparando os dois momentos históricos, nosso autor nota que João Goulart foi deposto dias “depois de anunciar um ambicioso programa de reformas estruturais”. Já a queda de Dilma não ocorreu “por conta de forças externas a seu governo, mas pelas mãos de seus próprios parceiros de coalizão e dos antigos aliados do PT entre o grande capital brasileiro”.

No entanto, se “Terra em Transe” é implacável em sua crítica aos erros da esquerda dos anos 1960, o documentário de Petra teria se limitado a culpar os inimigos e alguns fatores conjunturais pela deposição de Dilma. Entre eles, as manifestações de 2013.

De modo que a produção acaba reproduzindo o discurso oficial do PT, segundo o qual seu governo caiu devido a “suas qualidades e não por seus defeitos”. Como se para melhorar a vida de milhões de pessoas pobres o único caminho fosse o partido aliar-se a forças que viriam a traí-lo.

Assim, conclui Nunes, a impressão com que ficamos é de que o processo de aprender com a derrota na verdade nem começou, e ainda precisa superar um apego melancólico às vitórias e possibilidades de um passado recente, mas que já passou.

E apego melancólico a erros é tudo o que não precisamos no momento.

Leia também: Identitarismo pra todos os lados

3 comentários:

  1. Bom. Para que rever erros, afinal, se se pode repeti-los ad nauseum? (Karla)

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  2. Bom, sobre os filmes acho difícil compará-los, "Terra em transe" é uma obra prima e "Democracia em vertigem" um bom documentário, um faz uma metáfora de um momento político (não consigo enxergar relação direta com o governo João Goulart), crítico em relação a uma esquerda que não identifico como sendo a de João Goulart, e o outro um documentário calcado no final de governo da Dilma Rousset. Agora, concordo plenamente que João Goulart foi deposto pelas reformas sociais populares que tentava fazer e a Dilma pelas reformas pró-capital que a burguesia achava insuficientes. Quanto a autocrítica o PT não fez, não vai fazer e cobrar isso é bobagem. O Lula já cansou de falar que quem tem que fazer crítica é a oposição. Pois é, enquanto não temos poder de fazer coisa melhor, o que nos resta é isso.

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    1. Sim, a crítica do Terra em Transe a que ele se refere é à esquerda da época, não ao Goulart. Em relação ao PT não é questão de pedir autocrítica. É constatar que se recusa a, pelo menos, a reavaliar algumas de suas opções

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