No terceiro volume da trilogia “Escravidão”, Laurentino Gomes cita um trecho do documento conhecido como “Rascunho de dom Pedro sobre a escravidão, 1823”, escrito pelo responsável pela libertação do país do domínio português.
“Ninguém ignora que o cancro que rói o Brasil é a escravatura, é mister extingui-la”, dizia Pedro I. Segundo ele, a escravidão distorcia o caráter brasileiro porque tornou nossos “corações cruéis e inconstitucionais e amigos do despotismo”. Observava também que “todo senhor de escravo desde pequeno começa a olhar ao seu semelhante com desprezo”
Mas, afirma o autor:
...o Brasil estava de tal forma viciado e dependente da mão de obra escrava que, na prática, sua abolição na Independência revelou-se impraticável. Defendida em 1823 por José Bonifácio e pelo próprio dom Pedro, ela só viria 65 anos mais tarde, já no finalzinho do século.
O fato é que os lucros do negócio escravista eram astronômicos. Em 1810, diz Gomes, um escravo comprado em Luanda por 70 mil réis, era revendido em Minas Gerais, por até 240 mil réis, ou três vezes e meia o preço pago por ele na África. Em 1812, metade dos trinta maiores comerciantes do Rio de Janeiro eram traficantes de escravos.
É assim que a emancipação em relação ao jugo português só valeu para uma pequena minoria branca, às custas, principalmente, da manutenção do trabalho escravo.
Leia também: Escravocratas de alto a baixo
Nenhum comentário:
Postar um comentário