Doses maiores

10 de agosto de 2022

A encrenca que nos aguarda, se der tudo certo

Vamos falar sobre golpe de estado. Não daquele que Bolsonaro ameaça protagonizar, mas daquele que permitiu que ele chegasse à Presidência.

Há quem duvide do caráter golpista da deposição de Dilma Rousseff devido a seu trâmite parlamentar. Como se existissem apenas golpes com tanques nas ruas e fechamento de parlamentos.

O golpe foi institucional. Produto da ação conjunta do parlamento com a cúpula judiciária, sob pressão das Forças Armadas e cumplicidade de aliados do próprio governo deposto.

Óbvio que o alvo imediato era o mandato petista. Mas seu objetivo maior, a destruição das conquistas sociais que ainda restavam na legislação e o aumento da repressão sobre os movimentos sociais e forças progressistas em geral.

O caráter institucional do golpe, porém, acabou permitindo ao PT uma sobrevida política que tornou seu retorno ao governo central uma possibilidade muito concreta. Por outro lado, dobrou a aposta petista nas vias institucionais e na política de conciliação de classes.

Enquanto isso, expandiu-se ainda mais a presença de representantes fiéis ao ideário ultraconservador na máquina estatal. Principalmente, a dos fardados.

Uma vitória eleitoral de Lula não representará uma derrota do golpe, mas somente de sua força principal. Um novo governo petista será ainda mais refém de uma “governabilidade” conservadora. Já não se tratará apenas de arbitrar os interesses das várias frações do capital, enquanto tenta aliviar o sofrimento da grande maioria pobre. Será cobrado do PT na Presidência um papel mais firme no combate às conquistas sociais e, principalmente, às lutas populares.

Tudo isso enfrentando uma oposição abertamente fascista. Tudo isso naquele que somos obrigados a considerar o cenário mais otimista.

Leia também: Lula: nosso homem infiltrado na direita

3 comentários:

  1. Perfeitíssimo. Orai e Vigiai. Espero que os partidos de esquerda, olhando de longe o PT misturado (pra nosso louvor) a lama novamente, saibam orar e vigiar, ou seja, saibam ensinar a doutrina, fazer mídia, alicerçar a retaguarda...

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  2. O quadro é mesmo esse, sair de derrotas, ainda mais do tipo que sofremos nos fazem achar bom aquilo que no passado contestávamos fortemente. Realmente, sem muita esperança, com dedicação e luta, talvez consigamos para o futuro o que não conseguimos no passado, não com o governo petista, mas com sua oposição à esquerda. Boa sorte e melhoras politicas para chegarmos a isso.

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