Este debate é abordado por João Bernardo em seu livro “Labirintos do Fascismo”. Segundo ele, trata-se de uma polêmica que teve grande influência de Hannah Arendt. Para esta filósofa alemã, regimes totalitários seriam aqueles que liquidariam e pulverizariam as classes sociais, deixando as elites dirigentes diante de uma massa de “indivíduos atomizados, indefiníveis, instáveis e fúteis”. Ora, diz ele, esta visão das massas atomizadas é partilhada também pelo fascismo, o que torna impossível usá-la como elemento de distinção entre um e outro regime.
Para Hannah, polícias políticas de regimes como o soviético teriam inventado sistemas de classificação e vigilância, capazes de mostrar as relações, e a ligação entre relações, de toda a população. Pode ser, diz Bernardo, mas é precisamente este também o objetivo da vigilância informatizada. É o que mostra, por exemplo, o sistema de cartões perfurados criado pela IBM para viabilizar a política de extermínio racial do Terceiro Reich.
Afinal, pergunta Bernardo, o que dizer da ampla adoção de computadores interligados em rede que torna possível “mostrar as relações, e a ligação entre relações, de toda a população”? É assim que chegamos à estranha conclusão de que toda sociedade que utiliza a internete é totalitária.
A verdade, conclui o autor, é que a separação entre autoritarismo e totalitarismo serve para situar este último no capítulo das anomalias da história. Apenas um hiato no desenvolvimento capitalista e não uma das várias consequências lógicas do seu processo de evolução.
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