Doses maiores

2 de dezembro de 2022

A paz dos banqueiros e a paz dos cemitérios

Em seu livro “Labirintos do Fascismo”, João Bernardo comenta o que considera um dos episódios menos conhecidos da segunda guerra mundial. Envolve o Banco de Compensações Internacionais (BCI), instituição criada na Basileia, Suíça, em 1930. Sua função era permitir que os bancos centrais dos vários países cooperassem tecnicamente sem intromissões políticas. Ainda hoje, seu conselho de administração é composto por dirigentes de bancos centrais.

É muito provável que durante os seis anos de guerra não houvesse outro organismo onde os países inimigos estabeleceram oficialmente uma colaboração tão sistemática, afirma o autor. Nada mais lógico. Por um lado, é precisamente no plano financeiro que a internacionalização do capital chegou mais longe, já que o dinheiro circula muito fácil e velozmente. Por outro lado, no plano estritamente técnico, as operações envolvidas ficaram distantes dos olhos leigos das populações tão duramente afetadas por elas.

A existência do BCI reunindo pacificamente todas as partes das nações beligerantes prova que o capital estava já completamente globalizado.

Bem antes do final da guerra, a tecnocracia financeira do Reich se ocupava, juntamente com os seus colegas anglo-americanos, em definir o lugar da Alemanha vencida num mundo politicamente democrático e economicamente liberal. Os serviços de espionagem nacional-socialistas pressentiam os novos rumos ou até os conheciam e tomavam parte neles.

Era a concórdia reinando entre os capitalistas em suas salas acarpetadas, fossem liberais ou fascistas. Independente de suas nacionalidades, os donos dos meios de produção sempre tiveram uma única pátria, a do capital. Enquanto isso, para os soldados nas trincheiras e as populações bombardeadas nas cidades, a única paz possível sempre foi a dos cemitérios.

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