Doses maiores

8 de dezembro de 2022

 Tiktokização e ultraconservadorismo

“A dinâmica criada pelo Facebook é percebida como pré-histórica e nem mesmo 20 anos se passaram desde sua invenção”. Estas palavras são de Juan Gustavo Corvalán, diretor do Laboratório de Inovação e Inteligência Artificial da Universidade de Buenos Aires. Estão na reportagem “A ‘tiktokização’ dos negócios: como os algoritmos preditivos estão ganhando a batalha”.

A expressão “tiktokização” é obviamente inspirada no aplicativo TikTok, cujos algoritmos são considerados revolucionários “porque se ajustam aos detalhes de interesses e gostos além de qualquer outro algoritmo de conteúdo já criado”, explica um dos entrevistados pela reportagem.

Outro aplicativo semelhante é o Shein, utilizado para compras de vestuário. Considerada "irmã do TikTok", a empresa analisa os sites dos concorrentes para descobrir o que está em alta. Em seguida, cria designs rapidamente, prevê a demanda e ajusta o estoque em tempo real. “Assim como o Tiktok antecipa o conteúdo que você vai querer assistir, a Shein antecipa as roupas que você vai querer comprar”, diz a matéria.

Mas o conceito de “tiktokização” também pode caracterizar outro processo, decorrente do primeiro. Tal como já ocorre com o veterano Facebook, a principal função dessas tecnologias é puramente comercial, mas seus efeitos sociais deletérios continuam indo muito além.

Essa dinâmica voltada para o consumismo e diversão alienada contamina a chamada “esfera pública”. Ideias, propostas, convicções, passam a valer por sua capacidade de circulação, não por sua legitimidade social. No vazio de debates, a ausência de sentido se impõe. Surgem ressentimentos, preconceitos, intolerância. As aparências passam a ser o valor supremo. São ingredientes fundamentais para o surgimento de alternativas ultraconservadoras. É o algoritmo a serviço do pior.

Leia também: Os algoritmos e os ovos da serpente fascista

2 comentários:

  1. Parece que é a velha disputa capitalista de concorrência entre as empresas, onde se procura maior velocidade de circulação de mercadoria e competitividade no domínio da tecnologia para maior produtividade.

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    1. Sim, a velha disputa, mas com consequências cada vez mais graves e abrangentes.

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