Doses maiores

7 de dezembro de 2022

China: concentração de poderes (e de problemas?)

A extensão do governo de Xi Jinping não é uma grande surpresa. Mao Tsé-Tung permaneceu no poder por aproximadamente 30 anos, assim como Deng Xiaoping. A novidade é a forma como ele se mantém no poder. Mao Tsé-Tung continuou no poder como presidente do partido. Deng Xiaoping foi nomeado presidente da comissão militar. Mas Xi Jinping se mantém no poder mudando as regras e impondo um novo sistema sob seu controle exclusivo. Esta não é uma diferença pequena. 

As palavras acima são de Francesco Sisci, pesquisador da Universidade Popular da China. Estão em uma recente entrevista sobre a reeleição de Xi para um terceiro mandato como secretário-geral do Partido Comunista, presidente da República e chefe da Comissão Militar Central. Um acúmulo de cargos poderosos sem precedentes.

Sisci vê nessa concentração de poder um sinal de que os governantes chineses “estão em grande dificuldade, porque julgaram mal uma série de questões e opiniões e agora se sentem perdidos”. Precisaram apertar o controle para melhor responder a possíveis crises, afirma.

Segundo o entrevistado, os maiores erros relacionam-se à situação externa, envolvendo Rússia, Ucrânia e Estados Unidos. A questão, diz, não é “se a Rússia sucumbirá, mas quando”. Além disso, Sisci vê instabilidades em regimes aliados, como o iraniano. Desse modo, a China estaria ameaçada “de ser sitiada por países hostis”, conclui. 

A análise destoa de várias outras, que veem na aproximação russo-chinesa a formação de um polo estável e poderoso. O problema é que o gigantismo da economia chinesa não permite grande margem para erros graves. Inclusive, por seus possíveis efeitos desastrosos para o resto do mundo.

Leia também: Os rinocerontes e os cisnes de Xi Jinping

6 comentários:

  1. É, realmente tem opiniões bem contrárias às que a Rússia virá a sucumbir, mas sim a Ucrânia. Sei lá, se a China cometeu erros, Rússia idem, Estados Unidos mais ainda nem vamos falar de Brasil. Ou seja, vejo ela como a menos desastrosas.

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    1. Sim, também vejo assim. Só que não há fenômeno social ou histórico que não acarrete contradições. E, no caso da China, estamos falando de um baita fenômeno histórico e social. Portanto, a chance de haver enormes contradições também é grande.

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  2. Eu gosto particularmente de tuas conclusões: "O problema é que o gigantismo da economia chinesa não permite grande margem para erros graves. Inclusive, por seus possíveis efeitos desastrosos para o resto do mundo." Significa que você é um excelente leitor e capaz de pensar por si mesmo. Coisa raríssima, alias.

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    1. Valeu, camarada. Obrigado pelo apoio. Tomara que seja verdade. Rsss

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  3. Sérgio, fiz questão de verbalizar isso, porque há um defeito muito grande da Academia de aceitar tudo que vem de fora sem um mínimo senso critico. Um dia vi uma conferencia de Educação versando sobre um cabra dos Eua que falava tudo que Paulo Freire falou. Eu até entendo o fenômeno Freud ( esse FDR enganou todo mundo mesmo - quanto tempo eu e Marilena Chauí perdemos lendo ele - eu, pelo menos, tive a coragem de abandonar rsrsrs). Ha uma tendencia de celebração que lembra sempre Nelson Rodrigues: toda unanimidade é burra.

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