"O Fardo do Homem Branco" é um poema do poeta inglês Rudyard Kipling publicado em 1898. Desde então, a expressão tem sido utilizada para justificar a dominação neocolonial como uma missão sublime. O tal fardo consistiria em levar aos povos “atrasados e bárbaros” os nobres valores da civilização europeia.
Em seu livro “Colonialismo Digital: por um crítica hacker-fanoniana”, Deivison Faustino e Walter Lippold mostram como a dominação colonialista segue intacta em tempos cibernéticos, transformando-se no que eles chamam de “fardo do nerd branco”. Segundo os autores, essa transformação se deu “a partir da manipulação neoliberal da caridade tecnológica como forma de atualizar controles geopolíticos, ideológicos ou empresariais em territórios historicamente privados do desenvolvimento tecnológico”.
Um exemplo de “nerd branco” é Elon Musk. Em maio de 2022, ele esteve no Brasil e, em encontro amistoso e efusivo com Bolsonaro, anunciou seu projeto Starlink. Trata-se de uma rede de satélites de baixa órbita que pretende disponibilizar internete para áreas rurais e lugares remotos.
Pois bem, em março de 2023, a Polícia Federal fez uma operação contra a mineração ilegal na Amazônia e encontrou equipamentos da Starlink em poder de garimpeiros, em meio a armas e ouro. O que parecia filantropia era só mais uma forma de facilitar a exploração das terras indígenas e ajudar criminosos ambientais a fugir.
Eis aí um exemplo do que Trotsky chamou de desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo. Aquele em que “as mais altas tecnologias convivem e, até propiciam, as mais baixas condições de vida”, nas palavras de Faustino e Lippold.
Mas, talvez, fosse mais justo falar em maldição dos merdas brancos.
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Que absurdo
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