Por mais de 20 anos, Penélope esperou Ulisses voltar de Troia. Nunca duvidou de que seu marido retornaria. Quando seu pai pediu que se casasse novamente, ela concordou, mas somente após acabar de tecer uma manta. Ela passava os dias trabalhando no tear e, à noite, desmanchava o que havia feito.
Segundo Irene Vallejo, em seu livro “O infinito num junco”, a artimanha de Penélope não é só uma metáfora da fidelidade amorosa. Segundo ela, “a mente é um grande tear de palavras” e “desde tempos remotos, as mulheres foram as primeiras a expressar o Universo como malha e como redes. Seguravam com nós as suas alegrias, ilusões, angústias, terrores e crenças mais íntimas. Tingiam a monotonia de cores. Entrelaçavam verbos, lã, adjetivos e seda. É por isso que os textos e os tecidos partilham tantas palavras: a trama do relato, o nó do argumento, o fio de uma história, o desenlace da narração; puxar o fio da meada, alinhavar uma história, urdir uma intriga. É por isso que os velhos mitos nos falam da mortalha de Penélope, das túnicas de Nausíca, dos bordados de Aracne, do fio de Ariadne, da linha da vida que as moiras fiavam, da tela dos destinos que as nornas cosiam, do tapete mágico de Xerazade”.
“Escrevo porque não sei coser, nem fazer malha; nunca aprendi a bordar, mas fascina-me a delicada urdidura das palavras. Conto as minhas fantasias enoveladas com sonhos e recordações. Sinto-me herdeira dessas mulheres que, desde sempre, fizeram e desfizeram histórias. Escrevo para que não se quebre o velho fio de voz”, arremata nossa talentosa tecelã.
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Ele escreve muito poética.
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