É
que os pobres se tornaram um problema social no Rio muito antes do que em São Paulo,
diz a matéria. A primeira favela carioca surgiu em 1897, no morro da Morro da Providência.
Na capital paulistana, apenas nos anos 1940. Mas, logo, São Paulo tornou-se um polo capitalista mais dinâmico.
Nos anos 1970, investimentos imobiliários e obras de
urbanização voltados para indústria e comércio foram eliminando as moradias
precárias do centro paulistano. Sem morros para ocupar, os pobres foram para as periferias.
Ou
seja, o que aconteceu em São Paulo foi um processo que combinou repressão estatal
com expulsão econômica. A valorização dos territórios centrais da cidade inviabilizava
a permanência dos mais pobres. Essa forma de remoção, muito mais eficiente, só agora
está sendo utilizada pelas autoridades cariocas.
No
Rio, a polícia abriu caminho para o poder econômico. A grande maioria das UPPs foi
instalada na zona sul. Lugares que eram perigosos tornaram-se turísticos. O aluguel
sobe e taxas que antes não eram cobradas pesam no orçamento. A situação é ideal
para as empreiteiras. Podem comprar imóveis por quantias dezenas de vezes menores
do que valem.
São
os mecanismos de mercado empurrando os pobres para o subúrbio. Os capitalistas
continuam a precisar muito deles. Mas, enquanto lucram, aproveitam para se livrar de uma intimidade que pode
ser perigosa também do ponto de vista da luta de classes.
Um adendo. A primeira favela vem antes, já ao redor do morro da providência, pós guerra do Paraguai, o nome favela é que vem em torno de 1897 por causa das árvores de mesmo nome trazidas por soldados que lutaram em Canudos. Só que isso ai não define a ocupação da pobreza na cidade ao invés da periferia. A pobreza ocupava a cidade via cortiços, combatidos ferozmente pelo viés higienista durante todo o império, especialmente no período pós-regencial, o segundo reinado e mais ferozmente ainda no início da república, com ápice até antes do bota abaixo do Pereira Passos. O prefeito Barata ribeiro que detonou o maior cortiço da época, o Cabeça de Porco, foi mais radical que o Pereira Passos que já encontra uma cidade mudada pela especulação imobiliária aliada à indústria dos transportes na ideia de expansão da cidade e desocupação do centro dos pobres com envio pros subúrbios. quem ficou nas favelas ao redor dos locais de moradia das elites, que v]ão ocupando as áreas antigamente ocupadas pela pobreza, foi o mínimo da classe trabalhadora que era necessário pra trabalhar nas residências. Em um movimento similar aos de hoje os trabalhadores urbanos, de rua, vendedores foram sendo expulsos também, mas ai já é outra história. Esse movimento é um movimento que dá pra centrar inclusive com analogia da ampliação do movimento higienista de "saneamento" da cidade dos "focos de peste" e isso vem de 1840, grosso modo, até o ápice entre 1893 e 1908.
ResponderExcluirTudo isso dá pra tirar do "Cidade Febril" do Sidney Chalhoub.
É isso aí, Gilson. Valeu a aula. Na verdade, a reportagem deixa de lado detalhes que acabam sendo gigantes pra entender toda essa violência urbana. Mas historiador tem que ser assim mesmo. Meu texto é que ficou muito baseado no trabalho da jornalista.
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