Em 29 de maio de 1913,
estreava o balé “Sagração da Primavera”, do russo Igor Stravinsky (1882-1971). O
artigo “O escândalo da Sagração”, que João Marcos Coelho publicou no Valor em
17/05, descreve como foi a recepção da obra:
Voaram tapas, prospectos de programas, luvas e até
objetos mais contundentes, como bengalas, no meio da plateia. Uns contra,
outros a favor, com trilha sonora caótica de berros e vaias.
O artigo cita o maestro e
compositor finlandês Esa-Pekka Salonen: "A 'Sagração' veio do nada e mudou
tudo”. Nada na tradição musical anterior sinalizava semelhante explosão. Mas,
adaptando a frase de Trotsky, uma obra como aquela era impossível até que se
tornou inevitável.
Coelho também lembra que o
historiador Modris Eksteins viu na Sagração a antecipação “dos delírios da Primeira
Guerra Mundial”. O “símbolo ideológico da estetização da violência, e,
portanto, precursora do nazismo”.
Mas em seu ótimo livro “O Som
e o Sentido”, José Miguel Wisnik identificou na criação de Stravinsky o ritmo
da máquina, a velocidade, a aceleração do tempo e a eletricidade invadindo o
universo da música.
Seja como for, desde os
primeiros acordes, a música de Stravinsky anuncia a tragédia de seu final. A estreia
da Sagração parecia antecipar os tempos sombrios que viriam a seguir. A primavera
da modernidade capitalista só conseguiu fazer brotar a grande e assustadora
Rosa de Hiroshima.
O artigo de Coelho diz que a
obra “tem tamanha vitalidade que ainda escandaliza os conservadores e colhe
calorosa recepção junto às ‘gerações jovens’”. Que o calor juvenil prevaleça e arranque
a primavera do interior deste inverno que teima em perdurar.
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