Doses maiores

15 de janeiro de 2014

As eleições egípcias e a casa do desespero

Os egípcios foram às urnas em 14/01. Votaram em um plebiscito sobre uma nova Constituição. Na verdade, dizem os especialistas, trata-se de um referendo em relação ao atual governo chefiado pelo general Abdel Fatah al-Sisi. O que representaria a muito provável vitória do general?

Em primeiro lugar, uma vitória de golpistas a serviço de interesses poderosos. Mas outras respostas deveriam respeitar um princípio importante. Sisi não representa uma alternativa laica e ocidental, obrigado a fazer uso de autoritarismo contra o fanatismo islâmico. Ele mesmo é muçulmano.

Mais de 80% dos egípcios professam a fé islâmica. Ninguém foi às urnas votar a favor ou contra sua religião. A questão é política. Que relação a fé islâmica deve estabelecer com o Estado e a sociedade?

Ao contrário do que parece, os muçulmanos não têm uma única resposta para essa questão. É verdade que muitos islâmicos defendem o Corão como base para a constituição de um país. Mas há muitos outros que não pensam assim. Obama é tão cristão quanto os fundamentalistas do Tea Party. Nem por isso, é possível dizer que sejam politicamente idênticos.

Os poderes ocidentais têm procurado achatar as diferenças no interior do mundo muçulmano. Transformá-lo numa única massa fundamentalista com tendências terroristas. Desse modo, podem continuar impondo seus interesses políticos e econômicos com cada vez mais violência sobre seus adeptos.

Escondido por trás da defesa de valores laicos ocidentais também há o fanatismo mais selvagem da história humana. Como disse o filósofo Walter Benjamin, o capitalismo é a religião que leva “o planeta homem" a transitar pela "casa do desespero”.

Leia também: Intolerância religiosa e fanatismo neoliberal

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