Doses maiores

26 de janeiro de 2014

Veteranos das “Diretas Já” que nos envergonham

Os órgãos da imprensa comemoram os 30 anos do primeiro grande comício das Diretas Já. Muitos deles fingem celebrar algo que temiam na época e continuam a temer hoje: as manifestações populares. Mas ganharam a vergonhosa companhia de muitos dos que foram às ruas em 1984.

O movimento pelas eleições diretas para presidente iniciou o que o historiador Lincoln Secco chamou de “Revolução Democrática”. Um período que foi até 1989, marcado por milhares de lutas e duas grandes greves gerais. Pelo surgimento e fortalecimento de um polo de oposição socialista formado por CUT, MST e PT. A classe dominante colocada na defensiva.

Tudo isso foi canalizado para a uma Constituinte controlada pelo poder econômico e para eleições fortemente influenciadas pela Rede Globo. A partir daí, o processo eleitoral passou cada vez mais a transformar rebeldes em despachantes do Poder. Os sindicatos se especializaram em fazer de piqueteiros burocratas do Capital.

Trinta anos depois, temos governos cheios de veteranos das Diretas que se aposentaram das lutas para trabalhar para os poderosos. Sua última proeza foi aprovar uma lei contra manifestações e greves no período da Copa do Mundo. Ou seja, trocaram suas bandeiras de luta por canetas que autorizam a repressão às manifestações populares.

O povo nas ruas pode representar um novo esgotamento popular diante dos acertos feitos pelo alto para manter uma ordem injusta. As Diretas foram uma luta por representação democrática. As atuais manifestações mostram que essa representação jamais se concretizou. Não sabemos se estamos à beira de outra revolução democrática. Mas já sabemos com quem não podemos contar se ela vier.


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