Antes de ser considerado um
legítimo representante da música nacional, o samba foi muito perseguido. Antes dele, o mesmo ocorreu com manifestações carnavalescas populares como os entrudos e os
cordões.
Em seu livro “Escolas de
samba: sujeitos celebrantes e objetos celebrados”, Nelson da Nóbrega Fernandes
lembra a crescente repressão estatal a essas manifestações populares. Cita Ismael
Silva, que teria afirmado: “nós fizemos a escola de samba para não tomar
porrada da polícia”. Assim mesmo, demorou muito até que o cassetete cedesse lugar ao poder econômico.
Na República Velha, depois do
Carnaval, a Festa da Penha era o maior evento do Rio de Janeiro. Costumava reunir mais de cem mil pessoas. Tanto povo junto só podia provocar o medo das
elites. Em 1891, diz Nóbrega, o aparato repressivo designado para atuar na
festa era “formado por 160 praças de cavalaria e infantaria”.
Além disso, os ricos não
queriam que os foliões chegassem ao centro da cidade. Exemplo dessa disposição
é o que Olavo Bilac escreveu na revista “Kosmos” em outubro de 1906:
Num dos últimos domingos vi
passar pela Avenida Central um carroção atulhado de romeiros da Penha (...). Ainda
se a orgia desbragada se confinasse no arraial da Penha!
Um século depois, os bailes
funk são tão perseguidos como foram os batuques nas favelas. Os lugares “nobres”
a serem protegidos do acesso dos pobres são os shoppings. Os “rolezinhos” são as
novas romarias festivas, que a elite continua combatendo com cavalaria e infantaria.
E ainda temos muitos Bilacs espalhados pela grande imprensa.
Mudou a música. O enredo
continua o mesmo.
Leia também: Do
funk ostentação ao funk contestação
Não entendi as frases pinçadas de Olavo Bilac, pois elas soltas fora do texto atestam tudo e não atestam nada. Olavo Bilac foi companheiro inseparável do ícone do combate ao racismo e da defesa de uma educação popular no Brasil, o mestiço Manoel Bomfim. Bilac e Bomfim escreveram obras primas para a alfabetização das camadas populares, como o "Através do Brasil" com quase setenta edições.
ResponderExcluirEduardo, as frases em questão fazem parte da seguinte citação encontrada no livro de Nelson da Nóbrega Fernandes: "Num dos últimos domingos vi passar pela Avenida Central um carroção atulhado de romeiros da Penha: e naquele amplo boulevard esplêndido, sobre o asfalto polido, contra a fachada rica dos prédios altos, contra as carruagens e carros que desfilavam, o encontro do velho veículo, em que os devotos bêbedos urravam, me deu a impressão de um monstruoso anacronismo: era a ressurreição da barbárie - era uma idade selvagem que voltava, como uma alma do outro mundo, vindo perturbar e envergonhar a cidade civilizada...Ainda se a orgia desbragada se confinasse no arraial da Penha! Mas não! Acabada a festa, a multidão transborda como uma enxurrada vitoriosa para o centro da urbs...". Essas palavras podem não ser racistas, mas são elitistas.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário
Abraço