Doses maiores

24 de agosto de 2016

A Reforma da Previdência e a ressaca garantida

Esta semana, um milhão de chilenos foram às ruas contra seu sistema privatizado de previdência. Nele, os trabalhadores contribuem com 10% de seus salários, mas em vez do retorno de 70% prometido só recebem cerca de 35%. Além disso, 90% das aposentadorias pagam apenas metade do salário mínimo.

No entanto, dinheiro não falta. São seis fundos de pensão controlando juntos 143,5 bilhões de euros.

Nos anos 80, um comercial de bebida mostrava um personagem se deparando com uma imagem de si mesmo, avisando: “Eu sou você amanhã”. Para escapar da ressaca do dia seguinte, o segredo era beber a vodca Orloff, dizia a propaganda. O slogan transformou-se no “efeito Orloff”, sinônimo de coisas ruins que poderiam acontecer num futuro próximo.

Por exemplo, diante da crise econômica na Argentina, muitos analistas e jornalistas avaliavam que o mesmo aconteceria no Brasil em breve. “Eu sou você amanhã”, nos diriam os habitantes do país vizinho.

Pois bem, o sistema de pensões chileno foi criado em 1981 pela ditadura Pinochet. Incluía todos menos Forças Armadas, polícia e outros órgãos de segurança, que ficaram com normas menos prejudiciais. Não demorou para que a maioria dos chilenos passasse a amargar uma terrível ressaca.

No Brasil, várias reformas da previdência foram adotadas tendo como modelo o sistema de Pinochet. De Collor a Fernando Henrique, dos governos petistas aos atuais golpistas. Todos colaborando para que os trabalhadores brasileiros sofram amanhã os males que atacam os chilenos hoje.

Diante disso tudo, nós é que deveríamos dizer aos lutadores chilenos: “Queremos ser vocês hoje”. Uma ressaca brava como essa só dá pra curar nas ruas.

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