Doses maiores

11 de outubro de 2016

Ainda sobre a persistência do reformismo

Quando estão no governo, os “partidos socialistas comportam-se como todos os outros: com algum viés distributivo voltado para seu próprio eleitorado, mas cheio de respeito aos princípios sagrados do orçamento, políticas anti-inflacionárias, padrão-ouro equilibrado, etc.”.

O comentário acima poderia referir-se à recente experiência petista no governo federal. Mas é de 1985 e relaciona-se a décadas de experiências socialdemocratas na Europa. Está no livro “Capitalismo e Social Democracia”, de Adam Przeworski.

Segundo o autor, ao longo do século 20, sempre que:

...os socialdemocratas chegaram ao poder na Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Noruega e Suécia, os ricos foram deixados em paz e a propriedade privada dos meios de produção não foi perturbada.

Para usar um exemplo clássico, nas eleições de 1912, o Partido Socialdemocrata Alemão alcançou 34,8 % dos votos, obtendo o dobro da votação do segundo colocado. No entanto, o partido restringiu-se a defender reformas nos limites das instituições burguesas, culminando com a desastrosa posição favorável à participação alemã na Primeira Guerra.

Os trechos citados mostram como é antiga a contradição entre ganhar governos ou maiorias parlamentares e continuar a representar os interesses da maioria explorada. Recente, mesmo, só sua história entre nós.

O reformismo poderia ser considerado viável desde que suas conquistas fossem cumulativas e irreversíveis, diz Przeworski. Mas “não é o que se constata ao olharmos para os poucos lugares do mundo onde elas foram realmente colocadas em prática pela esquerda”, conclui.   

Mesmo assim, o reformismo continuou a ser considerado alternativa viável nas décadas que se seguiram. Nós também continuaremos a procurar na obra de Przeworski algumas pistas para entender essa persistência.

Leia também: A esquerda mundial e a persistência do reformismo

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