Quando estão no governo, os “partidos socialistas
comportam-se como todos os outros: com algum viés distributivo voltado para seu
próprio eleitorado, mas cheio de respeito aos princípios sagrados do orçamento,
políticas anti-inflacionárias, padrão-ouro equilibrado, etc.”.
O comentário acima poderia referir-se à recente experiência
petista no governo federal. Mas é de 1985 e relaciona-se a décadas de experiências
socialdemocratas na Europa. Está no livro “Capitalismo e Social Democracia”, de
Adam Przeworski.
Segundo o autor, ao longo do século 20, sempre que:
...os socialdemocratas chegaram ao
poder na Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha,
Grã-Bretanha, Noruega e Suécia, os ricos foram deixados em paz e a propriedade
privada dos meios de produção não foi perturbada.
Para usar um exemplo clássico, nas eleições de 1912, o
Partido Socialdemocrata Alemão alcançou 34,8 % dos votos, obtendo o dobro da
votação do segundo colocado. No entanto, o partido restringiu-se a defender
reformas nos limites das instituições burguesas, culminando com a desastrosa posição
favorável à participação alemã na Primeira Guerra.
Os trechos citados mostram como é antiga a contradição
entre ganhar governos ou maiorias parlamentares e continuar a representar os interesses
da maioria explorada. Recente, mesmo, só sua história entre nós.
O reformismo poderia ser considerado viável desde que suas
conquistas fossem cumulativas e irreversíveis, diz Przeworski. Mas “não é o que
se constata ao olharmos para os poucos lugares do mundo onde elas foram
realmente colocadas em prática pela esquerda”, conclui.
Mesmo assim, o reformismo continuou a ser considerado
alternativa viável nas décadas que se seguiram. Nós também continuaremos a procurar
na obra de Przeworski algumas pistas para entender essa persistência.
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