Doses maiores

19 de outubro de 2016

Que tal escolher governantes por sorteio?

Em sua última coluna na Folha, Gregório Duvivier citou o interessante livro “Contra as eleições”, de David Van Reybrouck.

Em um artigo publicado no The Guardian, em 29/06, Reybrouck resumiu seus argumentos. Ele afirma, por exemplo, que dos três mil anos de experiências democráticas, só nos últimos 200 elas são praticadas exclusivamente pela realização de eleições. Mesmo assim, são consideradas o único método democrático válido.

Por algum tempo, diz Reybrouck, essa simplificação da democracia deu certo. Mas nas últimas décadas as eleições se tornaram “os combustíveis fósseis da política”. Um recurso que já foi muito útil passou a envenenar a atmosfera social.

A partir da Segunda Guerra, afirma o autor:

...as democracias ocidentais foram dominadas por grandes partidos de massa (...). Isto resultou em um sistema extremamente estável, com grande coerência partidária e comportamento eleitoral previsível.

Mas tudo mudou nos anos 1980, quando o sistema político passou a ser “cada vez mais moldado pelo mercado livre”. “Cidadãos tornaram-se consumidores e eleições, operações de risco”.

Diante disso, o autor sugere voltarmos “ao princípio central da democracia ateniense: a indicação de governantes por sorteio”. Algo que também vigorou nos estados renascentistas de Veneza e Florença, assegurando-lhes “longos períodos de estabilidade política”.

Para quem acha a ideia uma loucura, Reybrouck lembra que os jurados nos tribunais são escolhidos desse modo. Pessoas leigas, selecionadas com base em diversidade social e bons antecedentes, são encarregadas de tomar decisões de enorme responsabilidade.

A proposta é mirabolante demais para o mundo real. Mas na política institucional atual, dominada por tecnocratas e suas fórmulas econômicas neoliberais, já não contamos nem mesmo com a sorte.

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