Doses maiores

16 de outubro de 2016

O keynesianismo e o pior dos reformismos

Em seu livro “Capitalismo e Social Democracia”, Adam Przeworski mostra os limites do keynesianismo como teoria do reformismo europeu.

Segundo a elaboração de John M. Keynes, o Estado deveria levar o empresariado a se comportar de acordo com os interesses gerais. Mas para isso, o setor público deveria possibilitar à iniciativa privada margens maiores de lucratividade.

O problema é que a lucratividade não sobe ou desce apenas pela vontade dos atores econômicos envolvidos. Muitas vezes, os lucros caem por força das crises econômicas periódicas e inevitáveis.

No “Manifesto Comunista”, Marx já afirmara que a burguesia não pode existir sem revolucionar o conjunto das relações sociais. Ou seja, é quase impossível assegurar longos períodos de estabilidade sob o capitalismo.

Muito provavelmente, os 30 anos de tranquilidade econômica do período posterior à Segunda Guerra resultaram da grande queima de capitais e vidas promovida por aquele conflito. Esgotados seus efeitos, a sustentação material do “Estado de Bem-Estar Social” ruiu. Desde então, as crises teriam retomado seu ritmo e se aprofundado.

No nível eleitoral, diz o autor, as consequências logo apareceram. Quando os salários caem ou o desemprego sobe, as pessoas simplesmente votam contra o governo de plantão, seja ele reformista ou não.

Nessa situação, afirma Przeworski, fica claro que “estar ‘no poder’ dá pouco poder: os socialdemocratas estão sujeitos à mesma dependência estrutural que qualquer outro partido”.

Por isso, há várias décadas, nenhum governo de esquerda consegue adotar o modelo do “Estado de Bem-Estar Social”. No máximo, há tentativas tímidas e de fôlego curto. Assim, chegamos ao pior dos reformismos. Aquele sem reformas.

Leia também: O beco sem saída do reformismo keynesiano

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