Doses maiores

18 de outubro de 2016

O fracasso do reformismo pelo voto

Em “Capitalismo e Social Democracia”, Adam Przeworski considera que “a crise do keynesianismo é a crise do capitalismo democrático”. Na verdade, poderíamos dizer que se trata do fracasso da crença em reformas socialistas obtidas pelo voto.

E se a questão é a relação entre eleições e socialismo, recomenda-se consultar a obra de Marx.

Segundo Przeworski, Marx considerava a convivência entre propriedade privada dos meios de produção e sufrágio universal uma combinação explosiva. Levaria ou à "emancipação social" das classes oprimidas devido a sua condição de maioria, ou à "restauração política" da classe dominante por meio do poder econômico de que ela dispõe.

Por isso, Marx acreditava que a democracia capitalista somente se manifestaria como um "estado excepcional e espasmódico de coisas”, sendo impossível se estabelecer como funcionamento normal da sociedade.

Aparentemente, esta avaliação foi desmentida pela história política posterior. Mas considerando o direito ao voto universal como critério para definir a democracia moderna, teríamos apenas uns 60 anos de sua vigência nos dois séculos de existência do capitalismo. Assim mesmo, para, no máximo, uns 30% da população mundial.

Mas até mesmo essa democratização tímida começou a ser revertida pelo neoliberalismo a partir dos anos 1980. Governos eleitos passaram administrar miudezas. Bancos centrais e gabinetes econômicos ficaram encarregados do que realmente importa: a manutenção da acumulação capitalista, gerando enormes lucros para muitos poucos.

Ou seja, Marx não estava tão errado ao denunciar o caráter espasmódico da democracia burguesa. Afinal, limitar a participação popular à realização de eleições é tão equivocado para a maioria quanto conveniente para a minoria.

Na próxima pílula, que tal indicar governantes por sorteio?

Leia também: O keynesianismo e o pior dos reformismos

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