Em seu livro
“Reconstruindo Lênin”, Tamás Krausz dedica um capítulo ao livro “O Estado e a
Revolução”, publicado em 1917. Uma das obras mais lidas do biografado.
Segundo Krausz, Lênin
retomou Marx e Engels ao propor a substituição da noção de estado no período pós-revolucionário
pela ideia de “comuna".
A comuna seria um estado
em extinção. Uma instituição fundamental durante a transição política que ele
chamou “ditadura do proletariado”, adotando o conceito de Marx e Engels.
Mas Lênin inovou ao chamar
de socialismo a fase de transição social ao comunismo, estágio em que a divisão
de classes seria extinta, tornando desnecessária a existência do estado.
Krausz também cita o
artigo “Nossas tarefas e o Soviete dos Deputados Trabalhadores”, de 1905. Nele,
Lênin afirma que os sovietes deveriam ser considerados formas de auto-organização
de toda a população.
Seriam órgãos do
proletariado, que não deveriam ser apropriados nem mesmo pelos partidos
revolucionários. Politicamente, dizia ainda, os sovietes seriam embriões de “um
governo revolucionário provisório".
Além disso, afirmava
que a organização do autogoverno revolucionário e a eleição de seus deputados
pelo povo não seria o prólogo de uma revolta, mas seu epílogo. Ou seja, a
democracia mais ampla era o objetivo maior.
Infelizmente, a curta experiência
democrática dos sovietes foi afogada em sangue pela guerra civil promovida pelas
forças contrarrevolucionárias, com enorme apoio das potências imperialistas.
E sem a esperada revolução
na Europa ocidental, as complicadas transições dentro das transições acabaram
bloqueadas.
Nessa situação, Stálin
apresentou sua alternativa. Promoveu uma contrarrevolução interna que salvou a União
Soviética e condenou o socialismo. Preservou o estado às custas da revolução.
Leia também: Lênin,
o grande navegador e suas dúvidas
Olá Sérgio. Na sua leitura, há como falar em um real poder popular exercido pelos conselhos, ou realmente procede que essa noção se cristalizou apenas em formalidade enquanto que o poder real era exercido por uma oligarquia/autocracia?
ResponderExcluirBom, Rodolfo, em primeiro lugar, não é bem uma leitura minha, mas o resultado de várias leituras. Ao que parece, a democracia a que se chegou nos primeiros anos da União Soviética foi mais a avançada de que se tinha notícia até então. Não só quanto à participação política, mas, principalmente em relação à desconcentração da riqueza e aprovação de leis muito avançadas. E seus efeitos perduraram por muito tempo, permitindo o posterior fechamento do regime com base nos avanços conquistados e, claro, no cerco covarde da burguesia. Em suma, um processo muito contraditório, que a esquerda ainda precisa debater muito. Do que tenho certeza é que a União Soviética tal como se estabilizou a partir da consolidação do stalinismo já não tinha condições de ser referência para os socialistas revolucionários. Por outro lado, é uma conclusão bastante facilitada pela distância dos acontecimentos.
ExcluirAbração!