Doses maiores

3 de agosto de 2018

7.500 compositoras brasileiras e seus parasitas

Dificilmente uma pessoa que não seja muito especializada seria capaz de utilizar todos os dedos das mãos para enumerar quantas compositoras brasileiras conhece. Por isso, o número exposto no título acima parece tão surpreendente.

Ele é produto da pesquisa de pós-doutorado "Cartografias da Canção Feminina – Compositoras Brasileiras no século 20 [e um passeio pelos séculos XIX e XXI]”. Sua autora é Carô Murgel, doutora em História Cultural pela Unicamp.

Em entrevista a Arrigo Barnabé, no programa Supertônica, Carô lembra, por exemplo, que o famoso samba “Chiclete com Banana” não é de Jackson do Pandeiro, mas de sua mulher, Almira Castilho.

Não fosse pela desconhecida Dora Vasconcelos, obras-primas de Villa Lobos continuariam restritas às salas de concertos. Suas inspiradas letras permitiram a intérpretes como Olivia Byington e Monica Salmaso gravarem maravilhas como “Canção sentimental” ou “Cair da tarde”.

Helena dos Santos deveria ser famosa, mas não é. Negra e de origem pobre, ela é responsável por várias composições de sucesso gravadas por Roberto Carlos.

Alice Ruiz fez a letra de “Socorro”, musicada e interpretada por Arnaldo Antunes. Também compôs “Quase nada”, em parceria com Zeca Baleiro. Além disso, tem cerca de 50 músicas gravadas por artistas como Adriana Calcanhoto, Cássia Eller, Gal Costa e Ney Matogrosso. Mas é mais conhecida por ser viúva de Paulo Leminski.

Voltando ao século 19, Carô descobriu que muitas criações musicais femininas eram atribuídas a figuras tão genéricas e anônimas como “uma niteroiense talentosa”. E que até algumas décadas atrás, os direitos autorais de compositoras eram arrecadados em nome de seus maridos, pais, irmãos e outros parasitas masculinos do talento feminino.

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