Doses maiores

3 de fevereiro de 2021

A bíblia do fascismo nacional

Ele é o livro de cabeceira da família Bolsonaro. A bíblia dos saudosos das torturas e mortes da ditadura de 64. O best-seller das bestas-feras da extrema direita nacional. Trata-se do “Orvil”.

O título é “livro” ao contrário. A publicação pretendia ser o espelho do livro “Brasil: Nunca Mais”, lançado em 1985.

“Brasil: Nunca Mais” (BNM) relatava as prisões, torturas e mortes causados pela ditadura de 64. Sua fonte de informações eram documentos da própria Justiça Militar. Portanto, acima de suspeitas.

Foram 707 processos examinados, a enorme maioria deles envolvendo tortura. A publicação não deixava dúvidas: as Forças Armadas adotaram a tortura como política de Estado.

Citemos as palavras de “Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil pós-político”, livro de João Cezar de Castro Rocha: “Relatório-vingança, Orvil pretendia virar ‘Brasil: Nunca Mais’ de ponta-cabeça”.

“BNM reescreveu a história do passado recente, a fim de projetar um futuro político no qual a tortura seria eliminada, diz o autor. Orvil reescreveu a história do passado recente, a fim de projetar um futuro político no qual a esquerda seria eliminada”, afirma.

“Orvil” foi concluído em 1987, mas publicado só em 2012. Enquanto isso, circulou ampla e discretamente entre a extrema-direita nacional. Nesse intervalo, já havia feito muito estrago.

Enquanto o governo do país ainda era ocupado por um moderadíssimo partido de esquerda, os ovos das serpentes do fascismo começaram a eclodir. E os filhotes recém-nascidos foram alfabetizados com essa cartilha tétrica, cuja única lição, repetida à exaustão, era a aniquilação do “inimigo vermelho” a qualquer custo.

Na próxima pílula, mais sobre esse livro muito vil.

Leia também: Uma etnografia dos delírios do fascismo nacional

2 comentários:

  1. Ah parece ser uma boa sequência de Pílulas. Já tinha só ouvido falar nesse Livro invertido (lembrei que os reacionários costumavam chamar os homoafetivos de invertidos). Bom o último parágrafo. No aguardo de mais. Bjs.

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